O que esperar em 2018? (e como se preparar para o que pode vir)

Por: Renan Schaefer

Final de 2017, um ano bastante turbulento e recheado de acontecimentos, de reformas trabalhistas, ensaios de reforma política e previdenciária, escândalos sem fim de corrupção, um potencial sinal de saída da maior crise já vivida pelo Brasil, menos de um ano da eleição mais agitada desde a implantação da democracia, ainda jovem, no Brasil, dentre outras surpresas que prometem agitar o mercado nos próximos 12-18 meses. O cenário ainda é de indefinição, pesquisas de intenções de votos confusas, dois candidatos de extremos opostos aparecendo na liderança das pesquisas, duas agendas econômicas completamente diferentes, o que gera a dúvida, como se posicionar no mercado com tantas dúvidas, isso somente no mercado interno.
No front internacional já começamos a ver alguns fatores de provável turbulência, como a mudança do Chairman do Federal Reserve, com Janet Yellen tendo anunciado no dia 21 de novembro de 2017 que irá renunciar à presidência do Fed em fevereiro de 2018, calote da Venezuela à dívidas com o Brasil, Brexit, Alemanha podendo anunciar novas eleições presidenciais após a Premiê Angela Merkel não conseguir maioria para formação de um novo governo, Coréia do Norte e ameaças nucleares, nova política fiscal nos EUA, entre outros fatores.
No Federal Reserve, a batuta passará às mãos de Jerome Powell, um ex-banqueiro, ex-gestor de fundos de private equity, com passagens também pelo setor público, como sub-secretário do Tesouro dos EUA para finanças domésticas durante o Governo George W. Bush e como membro do Board do Federal Reserve no governo de Barack Obama. Espera-se que durante o mandato de Powell, o foco seja manter o desemprego baixo, ajudando a fomentar a atividade econômica nos EUA, aumentando gradualmente as taxas de juros e também reduzindo o balanço do FED, o que poderá gerar uma valorização do dólar perante outras moedas, acarretando, por exemplo, em desvalorização de commodities, atingindo mercados emergentes, como o Brasil. Além disso, espera-se que haja um aumento da demanda por ativos em dólar, o que poderia tirar parte do foco do mercado brasileiro para mercados mais maduros, como EUA, Europa e alguns países asiáticos mais desenvolvidos. Como potencial impacto de uma demanda maior por ativos denominados em dólar, podemos ver um aumento da taxa de juros para fazer com que o investimento no Brasil seja mais atrativo, além de um potencial uso das reservas cambiais brasileiras para conter o avanço do dólar. Na frente econômica, espera-se também uma nova lei fiscal nos EUA, o que, caso aprovado de acordo com o anunciado pelo Presidente Trump, poderá gerar mais um impulso para a economia norte-americana, trazendo consigo um incremento do PIB global, haja vista que os EUA são o maior mercado consumidor de bens e serviços do mundo, aumentando também a demanda por produtos brasileiros.
No Velho Continente, o Banco Central Europeu prorrogou o programa de compras de ativos, o relaxamento quantitativo Europeu, mas já planeja o encerramento deste mecanismo. Na última reunião, realizada em 26 de outubro de 2017, foi decidido pela prorrogação do programa até setembro de 2018, mas com o volume de compras sendo reduzido pela metade, numa tentativa do BCE de conciliar um crescimento econômico mais acelerado, com uma inflação ainda fraca. A Europa tem começado a dar alguns sinais de melhora econômica, mas ainda existem fatores de incerteza regional, como o caso recente na Alemanha, onde a Chanceler Angela Merkel não conseguiu formar uma coalizão grande o suficiente para se ter maioria no Governo, e cogita a possibilidade de, caso não consiga fechar uma coalizão para governar, convocar novas eleições na Alemanha, a maior economia do Bloco Europeu.
Ainda na Europa, existem alguns fatores que podem trazer volatilidade aos mercados e principalmente ao câmbio, como por exemplo a efetivação do BREXIT, os impactos que de fato ocorrerão no mercado britânico e no Bloco Europeu. Neste ponto, espera-se que no dia 24 de novembro, haja um avanço das negociações entre Reino Unido e UE para essa saída, mantendo algumas condições comerciais favoráveis, potencialmente trazendo um resultado menos doloroso aos mercados, que já precificaram uma saída “tranquila” do Reino Unido Bloco Europeu.
Um cenário que já é consenso, é o de que o crescimento econômico puxado por economias maduras poderá alavancar o crescimento em países emergentes. Neste cenário, alguns fatores podem complicar, como por exemplo os impactos das retiradas de estímulos, como aumento de juros e redução do balanço do Fed, redução e retirada dos estímulos na Europa, e numa esfera local, o fator de imprevisibilidade nas eleições e continuidade das reformas pode gerar alguns percalços neste caminho para a recuperação.

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Para 2018, muito dos fatores de risco estão ligados às reformas, principalmente da previdência, e nas eleições. Tem-se visto muitas pesquisas de intenções de votos trazendo diversos cenários, ainda bastante incertos, sobre quem poderá ser um candidato viável. Contudo, ao meu ver, o que deverá ditar o próximo presidente não será o nome de um candidato, mas sim a agenda econômica e política que será proposta pelos candidatos. Desde o início da lava-jato tem-se visto um cansaço por parte do povo brasileiro do status-quo que hoje é predominante na política brasileira, nas agendas econômicas, e isso tem trazido à tona alguns nomes diferentes ao cenário eleitoral, como Bolsonaro, Meirelles, Dória, e mais recentemente Luciano Huck e João Amoedo. Existe uma possibilidade que deve ser considerada a de que um candidato mais radical, como Bolsonaro, possa ser eleito, numa espécie de “voto de protesto”, semelhante ao que elegeu Donald Trump nos EUA, trazendo volatilidade aos mercados no período mais próximo às eleições.
Em minha opinião, o que deve ser acompanhado durante esse período eleitoral são as propostas de agenda econômica e reformas. Apesar de existir esperanças de se aprovar a reforma da previdência ainda em 2017, será necessário em algum momento posterior enfrentar a questão previdenciária de forma direta. Neste sentido, uma agenda de reformas, desburocratização, fomento à economia, controle fiscal, abertura comercial, combate à corrupção, etc., compõem uma cesta de medidas extremamente interessantes que podem ajudar a alavancar ainda mais o mercado, trazendo os mercados financeiros a patamares ainda não alcançados.
Pensando em 2018, num cenário de inflação cada vez mais baixa, é provável que vejamos a SELIC atingindo patamares abaixo de 7%. Segundo o Boletim FOCUS do Banco Central do Brasil, a expectativa para 2018 é de SELIC a 7%, contudo, existe uma possibilidade de que com algumas turbulências, essa projeção mude e o governo tenha que levar a taxa SELIC para acima de 10% de forma a conter a valorização do Real perante o dólar. De forma objetiva, por motivos também eleitorais e de forma a liberar o crédito e impulsionar números econômicos, consumo, investimentos, etc., o governo Temer deverá sim trazer a SELIC para baixo de 7%, o que poderá gerar um impulso de curto prazo no mercado, trazendo recursos da renda fixa para ativos de maior risco, fazendo com que fundos passivos aumentem sua exposição em renda variável, impulsionando o mercado de ações. Mesmo que estas medidas possam ser concretizadas, vale lembrar que existe uma questão relacionada ao consumo que deve ser considerada nestes cenários, é que, segundo dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, divulgado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens e Serviços em 4 de outubro de 2017 , apontam que 58,2% das famílias estão endividadas, podendo comprometer a estratégia de impulsionar o consumo através do crédito.
Visando uma alocação para o ano de 2018, que parece promissor e agitado ao mesmo tempo, algumas coisas vêm à mente. Eis uma possibilidade de alocação tanto estratégica, e uma tática pensando em 2018.

Setores:

  • Bancário – Cortes de juros, aumento da demanda e oferta de crédito, ganhos de escala e sinergias com as recentes fusões e aquisições realizadas pelos grandes players, avanços tecnológicos no setor, são alguns dos fatores que fazem com que o setor bancário parece interessante e resiliente mesmo com eventuais “turbulências” no mercado. Ainda que tenhamos um endividamento das famílias em níveis consideráveis, a perspectiva de crescimento do PIB brasileiro, de 2,51% segundo a pesquisa Focus de 17 de novembro de 2017, traz consigo a possibilidade de incremento da renda e aumento do número de pessoas empregadas, aumentando também a demanda por serviços financeiros.
  • Infraestrutura – Com a demanda de investimentos em infraestrutura no Brasil, faz-se interessante um posicionamento em empresas de infraestrutura, principalmente nos setores onde de rodovias, aeroportos, portos, onde existe uma maioria dos projetos já anunciados, suprindo a demanda de investimentos que o governo federal atualmente não possui condições de executar.
  • Energia – Com um potencial reaquecimento da economia, aumento da demanda por parte da indústria, volta do emprego, concessões, privatizações, inovações, etc., existe uma grande possibilidade de o setor de energia se beneficiar destes fatores, sendo um dos setores que mais pode se beneficiar da retomada do crescimento econômico. Hoje vê-se um grande investimento por parte das empresa na aquisição de players menores, investimentos em novas tecnologias de geração, transmissão e armazenamento de energia, cidades inteligentes, que trazem não só a possibilidade de aumento de receitas, mas auxiliam muito na melhor eficiência de uso, redução de custos, dentre outros fatores que trazer ainda mais destaque ao setor de energia.
  • Tecnologia: Hoje no Brasil o setor de tecnologia vive um alto crescimento. O tema Inovação deixou de ser uma “moda” e passou a ser encarado como questão de sobrevivência para muitas empresas e setores no Brasil. Hoje, por exemplo, fala-se muito de indústria 4.0, cidades inteligentes, uso de tecnologias para melhorar a vida das pessoas, inteligência gerada para melhoria de processos de gestão, maior eficiência de vendas, enfim, uma enormidade de aplicações que fazem com que o setor possua uma demanda cada vez maior, gerando um potencial de retorno interessante. Com isso, o setor de tecnologia tende a se beneficiar não só da tendência e busca pela inovação, mas como mecanismo de redução de custos, automação de processos, agregação de valor, dentre outros fatores
  • Construção Civil: Com a retomada do avanço da economia e da geração de empregos, aliado à redução dos juros e destinação do crédito para o setor, visando principalmente a continuação dos programas de habitação, existe uma grande possibilidade de que haja uma retomada também do setor de construção. Por ser um setor que gera muitos empregos, tanto diretos, como em sua cadeia, o setor tende a se beneficiar também do déficit de habitação atual, e também por uma questão de investimentos, projetos imobiliários tendem a ser uma alternativa em momentos de taxa de juros baixas.

De forma a montar também um posicionamento tático para as carteiras, me parece prudente proteger-se de eventuais picos de volatilidade no mercado, montando operações estruturadas de compra de volatilidade, um posicionamento em câmbio, pensando também em eventuais picos de stress no mercado causados por eventos externos, aproximação de eleições, pesquisas de votos, etc. Por fim, a queda das taxas de juros, que, dificilmente, por questões estruturais da economia brasileira, se manterá em patamares tão baixos, abre oportunidade para compra de títulos públicos longos, pós-fixados, haja vista que com um rendimento em queda, os preços dos títulos também tendem a cair, além do fato de que essas taxas menores, fazem com que fundos de investimentos, fundos de pensão, etc., busquem ativos de maior risco para alcançar metas atuariais e de performance.

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