Perspectivas do Mercado Financeiro Brasileiro

Por: Daniel Baggio

Com o objetivo de comentar sobre as perspectivas do mercado financeiro brasileiro, devemos levar em consideração os acontecimentos nacionais e internacionais dos últimos 15 dias, ou seja, as repercussões da agenda de resultados das empresas brasileiras, os debates acerca da desoneração dos combustíveis no Brasil e, é claro, da ampliação em maneira exponencial dos conflitos existentes entre a Rússia e Ucrânia.

Os resultados das empresas foram marcados por surpresas positivas relacionadas ao Banco do Brasil, Petrobras, Vale do Rio Doce, Weg e Totvs superando as expectativas do consenso do mercado. Como informa a XP (Relatório Semana em Foco de 26/02/2022), o Banco do Brasil (valorização de 7,9% na semana), apresentou fortes resultados com destaque para a qualidade e crescimento da carteira de crédito (elevação em 18% do último ano), que continua a se beneficiar pela exposição ao Agronegócio; a WEG que voltou a apresentar resultados sólidos, com lucro levemente acima das expectativas; a Totvs (valorização de 15,2% na semana), uma combinação de receita liquida acima do esperado e custos sob controle, possibilitou a empresa um lucro líquido de R$126 milhões no trimestre, ou seja, uma ampliação de 30,9% se comparado ao ano de 2020.

Da mesma maneira, a Petrobras se destacou a partir de um lucro líquido de R$ 83 bilhões, uma valorização superior a 500% se comparado com o mesmo período em 2020.

A empresa Vale do Rio Doce superou as estimativas do consenso e encerrou 2021 com o lucro líquido de US$ 22,4 bilhões, isto é, mais de 350% se comparado ao mesmo período de 2020 e, ainda, com pagamento de mais de R$18 bilhões em dividendos.

A Rede D’or surpreendeu o mercado ao anunciar a compra da seguradora Sul América Seguros, via troca de ações (prêmio de 49,3% com base no fechamento de 18 de fevereiro de 2022). A seguradora acumulou alta de 37% na semana e liderou as altas do Ibovespa no mês de fevereiro.

A apresentação dos resultados financeiros impactou nos preços dos ativos brasileiros e o mesmo pode ser dito quanto aos debates no congresso brasileiro sobre a desoneração dos combustíveis. A votação do projeto de Lei que alteraria a Lei Kandir e permitirá mudanças na cobrança do ICMS, que havia sido adiada para a última quarta (23), foi novamente postergada devido à falta de acordo para a aprovação da matéria. A nova data está marcada para o dia 08 de março. Caso aprovado, a XP estima um impacto de R$19 bilhões em perda de arrecadação.

E de maneira óbvia, os holofotes mundiais estiveram e continuam voltados para a Rússia, que invadiu à Ucrânia, e as consequências do aumento das tensões geopolíticas no leste europeu.

Na madrugada da quinta-feira (24), Moscou iniciou ataques em uma “operação militar especial para proteger o povo da região separatista de Donbas”, segundo Vladmir Putin. Os mercados reagiram fortemente a essas notícias, com Bolsas globais caindo acentuadamente.

O índice russo chegou a cair mais de 33% em um único dia, registrando uma das piores quedas diárias na história do mundo. O rublo russo caiu para um recorde mínimo, os títulos de dívida russa de 10 anos subiram 450 pontos base, o CDS de 5 anos, medida de risco-país, também saltou para o maior nível desde 2008, conforme a XP.

Em todo cenário de tensões geopolíticas acentuadas, conforme esclarece a XP, os investidores tendem a adotar uma postura de aversão a risco, ou seja, migrar seus investimentos de opções mais arriscadas para opções mais seguras, que são eles: títulos de governo, dólar e ouro. Mesmo com toda tensão existente, a bolsa brasileira fechou com uma pequena queda de – 0,37%, fechando nos 111591 pontos, mesmo que operou grande parte do dia abaixo dos – 2%, atingindo perto dos 109 mil pontos.

Os analistas vêm o Brasil como um mercado que deve sofrer menos do que os outros por conta da grande exposição. Além disso, poderá se beneficiar de um fluxo positivo de investidores diminuindo exposição à Rússia. Tanto a Rússia quanto o Brasil são mercados emergentes e, inclusive, têm pesos semelhantes (ao redor de 4% no índice de mercados emergentes), o que pode favorecer um movimento de troca de alocação, por parte de investidores estrangeiros, do mercado russo para o brasileiro, já que ambos são mercados emergentes com grande exposição a commodities, e o Brasil continua um mercado líquido e robusto, conforme esclarece a XP, no seu Relatório Semana em Foco de 26/02/2022).

Além disso, os conflitos poderão acentuar ainda mais o impacto nos preços das commodities. De maneira que os preços da soja e milho já se encontravam em patamares altos, devido ao baixo nível de estoques e da perspectiva negativa da safra brasileira de 2022, isso poderá repercutir ainda mais na ascensão dos preços.

Deve-se relembrar que a Rússia e Ucrânia representam cerca de 17% da exportação mundial de milho e 28% de trigo, muito possivelmente os reflexos ocorrerão nessas commodities e, consequentemente, na cadeia produtiva dos dois produtos.

Destaca-se ainda, que a Rússia é a principal produtora de Fertilizantes do mundo, assim como a segunda produtora de potássio e a maior fornecedora de fertilizantes do Brasil, fato esse que também poderá repercutir no preço desses produtos. Portanto, analistas projetam uma elevação nos preços de commodities como soja, milho, trigo, assim como em outros óleos vegetais, preço no combustível no mundo e assim, nos fretes. Muitas discussões e acontecimentos estão por vir.

Ao falar sobre o fluxo de dinheiro e a possibilidade de ingresso de capital estrangeiro na bolsa brasileira saindo da bolsa russa, deve-se destacar que o fluxo de recursos estrangeiros na bolsa brasileira fechou o segundo mês consecutivo de 2022 no positivo.

O mês de fevereiro a B3 recebeu o ingresso de cerca de 60 bilhões de reais. Em uma direção contrária os investidores pessoas físicas e os institucionais vem retirando os seus investimentos da renda variável, com retiradas no valor próximo a 13 bilhões e 50 bilhões, respectivamente no ano de 2022 (Revista Timing nº 1150, 27/02/2022).

Na mesma direção que os investidores estrangeiros, as instituições financeiras aportaram neste mercado mais de 2,5 bilhões no acumulado em 2022. Isso demonstra o apetite ao risco por parte dos investidores pessoas físicas e uma possível partida para os investimentos menos arriscados, como a renda fixa, que vem proporcionando taxas mais atrativas do que em 2021. Tanto os aportes por parte dos investidores estrangeiros e as instituições financeiras, quanto as retiradas dos investidores pessoas físicas e institucionais foram ainda mais elevadas no mês de janeiro, como pode ser visualizado na Imagem 1.

Imagem 1 – Fluxo de Capital Estrangeiro na B3.

Fonte: XP, obtido da B3 (b3.com.br)

No que se refere aos principais destaques de ações do mês de fevereiro de 2022, pode-se observar na Imagem2 os seus preços de fechamento e valorização na última semana de fevereiro e no mês. Ressalta-se que o Ibovespa terminou o mês de fevereiro com valorização de 0,9%, aos 113142 pontos.

Imagem 2 – Principais destaques de fevereiro na B3

Fonte: XP – Relatório Semana em Foco de 26/02/2022

Por fim, no cenário grafista, conforme o Analista de Mercado Márcio Noronha (2022), o cenário continua de lateralidade no curto espaço de tempo do Ibovespa,

as forças baixistas seguem com um pequeno predomínio mantendo a probabilidade que o índice permaneça se movendo lateralmente entre 114.926 e 107.500 antes de seguir em frente rumo aos 131.190”.

O analista destaca ainda que a perda do suporte dos 107500 pontos poderá levar o Ibovespa aos 93 mil pontos, como pode ser visualizado no gráfico a seguir. Mesmo assim, ele ressalta que se o Ibovespa superar a resistência dos 115 mil pontos, poderá então iniciar novos voos rumo aos 30 mil pontos.

Imagem 3 – Análise grafista do Ibovespa

Fonte: Revista Timing nº 1150 de 27/02/2022.

Quando se analisa um cenário futuro de posições em aberto e contratos futuros do Ibovespa é perceptível que as instituições estrangeiras, as pessoas físicas possuem um posicionamento dos seus investimentos na ponta compradora, ou seja, com um saldo positivo de 172958 e 910 contratos posicionados respectivamente.

Junta-se aos dois grupos as instituições financeiras com 2849 contratos no saldo positivo. Enquanto isso, o institucional nacional segue na ponta vendedora. Verifica-se, portanto, o posicionamento e a perspectiva futura dos investidores estrangeiros quanto ao apetite à compra do mercado Brasileiro, mesmo que tem reduzindo a posição do seu saldo de 206577 para 172958 contratos nos últimos 15 dias.

Aguardem os próximos capítulos e relatórios.

As informações contidas neste artigo e vídeo não são recomendações de compra.

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