Taxa de juros: como Estados controlam o “custo do dinheiro”?

Por: jessica

Depois de entender como os Estados “criam” dinheiro e como isso se deu através de todo um processo histórico, chegou a hora de compreender  uma importante ferramenta de política monetária, que determina o custo do dinheiro em uma economia, também conhecida como taxa de juros, ou Selic, aqui no Brasil.

Primeiramente, vamos entender o conceito de taxa de juros. Este indicador fundamental e desempenha vários papéis que são essenciais na economia. 

Em termos simples, a taxa de juros define o custo do dinheiro, ou seja, o preço pago pelo uso de recursos financeiros. 

A taxa de juros é expressa como uma porcentagem do montante emprestado ou investido e pode ser aplicada em diversos contextos, como empréstimos, investimentos, depósitos e títulos da dívida pública.

Entre as principais funções, a taxa de juros ajuda a alocar mais ou menos recursos numa economia: quando as taxas estão baixas, o custo dos empréstimos diminui, estimulando assim o consumo e a tomada de crédito, ou seja, mais pessoas se encorajam. Por exemplo, a financiar imóveis, veículos, tomar empréstimos para fazer melhorias e investimentos na sua empresa e entre outros.

Por outro lado, quando as taxas de juros estão altas, o custo do dinheiro aumenta, desencorajando o consumo e a tomada de crédito e incentivando a poupança, ou seja, você desestimula o consumo, retirando assim, parte do dinheiro que em um outro cenário, o de juros baixos, estaria circulando no que chamamos de economia real.

Os Bancos Centrais usam as taxas de juros como uma ferramenta de política monetária, para controlar a inflação. É importante lembrar que aumentar as taxas tende a desacelerar o crescimento econômico, reduzindo a demanda por produtos e serviços e, assim, controlando pressões inflacionárias ao desincentivar o consumo.

Você começa a perceber como a taxa de juros é importante e necessária,  nessa complexa regulagem de ciclos econômicos.

Em tempos de recessão, onde a atividade econômica encontra-se estagnada, taxas mais baixas podem estimular a atividade econômica, enquanto em períodos de forte expansão econômica, taxas mais altas podem evitar pressões inflacionárias e as chamadas bolhas financeiras.

Taxas de juros mais altas podem funcionar ainda como um atrativo para  investidores estrangeiros, fortalecendo a moeda nacional. Já taxas mais baixas podem ter o efeito oposto, depreciando a moeda local.

Taxas de juros e investimentos

Já sob a ótica dos investidores, as taxas de juros são um fator crítico ao avaliar o retorno potencial dos investimentos. Elas afetam a atratividade de ativos financeiros, como títulos, ações e outros instrumentos de investimento. 

Taxas mais altas, favorecem investimentos menos arriscados, como os ativos de renda fixa em geral e ao mesmo tempo, tiram a atratividade de ativos de renda variável, como ações e fundos imobiliários. 

A lógica é simples: se o governo está oferecendo uma rentabilidade alta para os investimentos, por meio da taxa de juros, por que vou me arriscar investindo em ativos que sofrem riscos inerentes ao mercado?

Da mesma forma, as taxas de juros mais altas incentivam o hábito de poupar, pois oferecem retornos mais atrativos para aqueles que optam por economizar em vez de gastar.

Assim, indivíduos e empresas tomam decisões de empréstimos e financiamento com base nas taxas de juros. Custos mais baixos podem impulsionar a tomada de empréstimos, enquanto custos mais altos podem limitar o endividamento.

Estado e a definição do custo do dinheiro

Bom, agora que você entendeu melhor o que é e para que servem as taxas de juros, vamos explorar como os Estados assumiram o papel de definir o custo do dinheiro.

Essa prática pode ser rastreada até civilizações antigas. O Império Romano já demonstrava controle estatal sobre a moeda e as taxas de juros, implementando leis que regulavam essas taxas e impondo limites para evitar a exploração dos devedores.

A formalização e a criação de instituições responsáveis por definir as políticas monetárias modernas, evoluíram ao longo do tempo, assim como a história do próprio dinheiro e da emissão de moeda centralizada pelo Estado.

O Império Romano, considerado até hoje como a maior civilização da história ocidental e que durou cinco séculos, de 27 a.C. a 476 d.C. , já demonstrava práticas de controle estatal sobre a moeda e as taxas de juros. 

As autoridades romanas implementaram leis que regulavam as taxas de juros e, em alguns casos, até mesmo impunham limites para evitar a exploração dos devedores.

Durante a Idade Média, período da história localizado entre os anos 476 e 1453, e o Renascimento, período da história localizado entre os anos 476 e 1453, fazendo a passagem entre a idade média e a idade moderna, vários países europeus começaram a adotar políticas de controle de moeda e taxas de juros. 

As guildas, que eram uma espécie de associações de artesãos e comerciantes, que desempenharam um papel importante na organização econômica e social durante a Idade Média e o início da Idade Moderna na Europa, eram caracterizadas por agrupar trabalhadores de uma mesma profissão ou de um mesmo segmento do comércio.

Entre outras coisas, as guildas regulavam a prática do ofício e estabeleciam padrões de qualidade, também regulamentavam as práticas de empréstimo e estabeleciam padrões para as suas taxas de juros.

Mais adiante, já na idade moderna, no século XVII, a criação do Banco da Inglaterra em 1694 marcou um passo significativo no desenvolvimento das políticas monetárias modernas. O Banco Central inglês desempenhou um papel crucial na emissão de moeda e na definição das taxas de juros para influenciar a economia.

Já no século XIX, muitos países adotaram o chamado padrão-ouro, vinculando o valor de suas moedas a uma quantidade específica de reservas em ouro. Isso teve implicações nas políticas monetárias e nas taxas de juros, pois os países buscavam manter a estabilidade cambial.

Chegamos então ao século XX, com a evolução das teorias econômicas, a criação de bancos centrais independentes e as duas grandes guerras mundiais, tivemos o abandono do padrão-ouro, e os Estados começaram a ter maior flexibilidade no controle das taxas de juros. 

Bancos centrais, como o Federal Reserve nos Estados Unidos e o Banco Central Europeu, assumiram papéis importantes na formulação e implementação de políticas monetárias.


Compreender como os Estados controlam o custo do dinheiro e a origem dessa prática revela a complexidade e a importância das taxas de juros na regulação econômica.

 

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