A XP será a maior empresa de investimentos do Brasil, diz Benchimol.

Por: Eliseu Manica

Guilherme Benchimol, fundador e presidente da XP Investimentos, concedeu essa entrevista à DINHEIRO, na tarde de terça-feira 15, na sede do Grupo, em São Paulo.

Você criou a XP com o discurso de que não era um banco. Agora, se associou ao maior banco privado do Brasil. O que mudou?

Nosso negócio segue sendo a antítese de banco. Quando se pensa num banco comercial no Brasil, independentemente de qual banco seja, a proposta é investir nos produtos do próprio banco. Não tem a liberdade de comparar com o que o mercado oferece, não tem um gerente de banco alinhado em ajudar a escolher aquilo que combina com o seu perfil. Somos a antítese desse processo e isso não vai mudar. Teve a união com o Itaú e a sensação que talvez passe é “pô, você sempre lutou contra eles e agora está se unindo a eles”. Não. Íamos abrir capital para estampar mais credibilidade e aumentar a governança da empresa, porque, cada vez mais, estamos atendendo um cliente maior, que quer ver uma maior robustez na companhia.

E por que não abriu o capital?


Porque, no meio do caminho, apareceu a possibilidade, que, na nossa visão, era o melhor dos mundos: o maior banco do País nos traz a mesma governança, sem que a gente se exponha ao mercado. No caso do Itaú, a gente tem o maior banco privado do Brasil, que tem credibilidade inquestionável, entrando como sócio, sem nenhum tipo de governança que tire a nossa liberdade, porque a companhia segue nossa.

O que o Itaú quer de vocês?

É complicado eu dar opinião por eles, mas eu posso dar um pouco da nossa. Não estamos mudando a nossa visão. A XP segue com a capacidade de visão dela, a longo prazo, inabalada: competimos contra os bancos. São R$ 3,3 trilhões de liquidez no Brasil, que estão no Itaú, no Banco do Brasil, no Bradesco, no Santander. Acreditamos que essas pessoas, que investem nesses lugares, vão investir melhor se elas conhecerem a XP. Isso é fato. O Itaú segue sendo nosso concorrente.

O fundador da Amazon, Jeff Bezos, diz que chega todo dia na empresa e olha aquilo como se fosse o começo, como uma startup. Como fazer para que a XP não se acomode e continue inovando?

O que move a mim e aos demais sócios da empresa é o desafio de poder mostrar que a XP será a maior empresa de investimentos do Brasil. Quando nos associamos ao Itaú, vimos uma maneira de encurtar o nosso plano de negócios de 10 anos. Porque estávamos construindo uma boa imagem no mercado, mas uma coisa é trilhar um caminho solitário. Íamos chegar lá, acreditamos nisso. Mas outra coisa é ter o Itaú por trás, ratificando que somos uma empresa séria, alinhada com o cliente. É uma aceleração diferente. Aquele nosso plano de fazer a XP virar a maior empresa de investimentos do Brasil em 10 anos virou um plano de cinco anos.

Em cinco anos a XP se torna a maior?

Em 2022. Sei que pode aparentar uma falta de modéstia, mas essa coisa de sonho grande, a gente aprendeu a fazer isso aqui antes do Lemann (Jorge Paulo, sócio de empresas como AB-InBev e Kraft-Heinz) abordar isso com tanta frequência.

Por que você diz isso?

Em 2002, a empresa era formada por mim, um sócio, o Marcelo Maisonnave, e dois estagiários, em Porto Alegre. Para você ter uma ideia, na época, não conseguimos convencer um estagiário a ficar conosco. Ele gostava do trabalho, mas preferiu trabalhar no JP Morgan, com carteira assinada. A empresa, que era formada por quatro pessoas, ficou com três. Perdemos uma força importante. Seis meses depois, a estagiária ia se formar e, se ela saísse, era o fim para nós. Convencemos ela a virar sócia, com 10% da empresa, com o discurso de que seríamos a maior corretora do Brasil. Ela confiou e em 2008 viramos a maior corretora independente do Brasil. Ali aprendemos a sonhar grande. Botamos na cabeça um plano, que, por mais que parecesse ousado, tinha uma ponte.

Qual é a taxa de crescimento nesses últimos anos?

Este ano vamos faturar R$ 2,2 bilhões. Em 2001, eram R$ 50 mil. No começo de janeiro de 2010, tínhamos 30 mil clientes e cerca de R$ 1 bilhão em custódia. Até esse período, éramos uma corretora tradicional, que ajudava a pessoa física a investir em ações com um modelo comercial diferente, de ensinar as pessoas a pensar o mercado diferente. Não era uma casa de investimentos. Viramos essa chavezinha na crise de 2008/2009, que nos obrigou a tentar ver o que tinha dado certo no mundo.

O que vocês enxergaram?

A americana Schwab nos inspirou. Vimos que montar um modelo que servisse de contraponto ao banco comercial era algo coerente naquele tempo. Em 2010, a XP não era uma casa que estimulava a pessoa a investir a poupança com a gente. Era uma casa de risco, era uma corretora de valores. Essa era a foto há sete anos. Hoje é bem diferente. Ontem (na segunda-feira, 14 de agosto), atingimos R$ 100 bilhões sob custódia. No mês de agosto, devemos bater o recorde de dinheiro líquido que vai entrar na empresa. Vai ultrapassar, ao que tudo indica, R$ 5 bilhões captados no mês. Em janeiro de 2014, a gente tinha R$ 14 bilhões em ativos. Ou seja, há 3 anos e meio atrás. Vamos terminar este ano com R$ 130 bilhões.

A XP vai virar um banco?

Não é virar um banco. A XP vai ter um banco como produto. Vamos continuar sendo sempre uma empresa de investimentos. O banco é um produto desse conceito. Você vai ser nosso cliente provavelmente não porque temos um banco competente, mas porque somos uma empresa que te ajuda a investir melhor. Dentro desse conceito, vamos oferecer facilidades que tornam a sua vida como investidor mais fácil.

Quando isso deve acontecer?

Está no processo final, há mais de ano, com o pedido protocolado no Banco Central. Acreditamos que no primeiro semestre de 2018 o banco XP estará funcionando. A princípio, é Banco XP. Mas o banco não será a cara da empresa. Somos XP Investimentos, Clear Corretora e Rico Investimentos e, aqui embaixo, tem uma caixinha chamada banco. Se o cliente dessas três marcas quiser usar o banco, no começo como crédito, ou seja, um crédito muito barato, muito acessível, que utilize o colateral pelo qual você investe com a gente como garantia, ele vai ter.

Qual é o limite para a XP?

Somos empreendedores e vamos começando aos pouquinhos e vamos subindo o nível. Minha visão de longo prazo é fazer o que a Schwab fez. Ela é a maior empresa de investimentos do mundo. E também é um banco. Se você quiser, tem cartão de crédito, conta corrente e a sua vida toda é ali dentro. O sonho é poder oferecer algo que seja completo.

Qual é a sua opinião sobre os rumos políticos do País. Isso está interferindo nos seus negócios?

Obviamente que o Brasil vive uma crise política bastante intensa e só vai conseguir sair dela, de verdade, nas eleições do ano que vem. Mas tivemos boas evoluções nesse último ano. Viramos um país mais sério, tanto do ponto de vista do combate à corrupção como do da seriedade política. As estatais estão muito mais bem organizadas, tem muito menos interferência pública, tem o teto de gastos, tem a reforma da Previdência, que está bem encaminhada, tem a reforma Trabalhista. Algumas iniciativas foram bastante importantes nesses últimos meses. Mas ainda não tem um presidente que seja consenso. Mas o ambiente no Brasil está mais liberal. Não acredito que o país voltará a ter uma gestão de esquerda. Acredito em uma mais centro-direita, nos próximos anos.

Qual modelo de gestão que você admira?

Estou bastante impressionado com a gestão pública em São Paulo. Sou carioca e moro no Rio de Janeiro ainda. São Paulo é quase uma Nova York, em comparação ao Rio. Aqui eu me sinto num lugar diferente. Adoro entrar no táxi e perguntar o que o motorista está sentindo. As pessoas estão orgulhosas de serem de São Paulo, hoje em dia. Não sinto isso no Rio de Janeiro.

A crise econômica não chegou na XP?

Para nós não tem crise porque não temos de criar mercado. Existem R$ 3,15 trilhões com os bancos. Só preciso convencer o cliente que ele vai investir melhor com a gente, vai pagar menos. Aqui, a taxa é zero, os produtos são mais competitivos e tem alguém preocupado em ajudá-lo a investir melhor. O cliente está aí, só preciso chegar nele com campanha de comunicação, mais assessores externos, mais qualidade. Hoje tem fundos extremamente caros. Existem fundos DI no Brasil que cobram 3,9% ao ano de taxa de administração. Com o CDI a 9,25% é um exagero. O mesmo fundo na XP é 0,3% ao ano. Não é difícil chegar nesse cara e mostrar que o produto tem o mesmo risco e ele paga muito menos. É só transformar o mercado, não é criar. Então não tem crise.
Fonte: Isto É Dinheiro.

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