Brasília, a capital do Brasil
Por: Filipe TeixeiraA cidade de Brasília, localizada na região Centro-Oeste do país, é a capital federal do Brasil e a sede do governo do Distrito Federal.
Bom, isso todo mundo sabe.
O que você talvez não saiba é que a cidade inaugurada por Juscelino Kubitschek em 1960 e projetada por gênios como Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, é a terceira mais populosa do país, possui a quinta concentração urbana mais populosa do Brasil, além de ser a maior cidade do mundo construída no século XX.
A cidade em números
E tem mais: Brasília possui o maior produto interno bruto per capita em relação às demais capitais brasileiras e o quarto maior entre as principais cidades da América Latina (cerca de três vezes maior que a renda média brasileira).
Além disso, a cidade abriga a sede dos três poderes da República (Executivo, Legislativo e Judiciário) e 127 embaixadas estrangeiras.
A arquitetura única da cidade engloba a localização de prédios residenciais em grandes áreas urbanas, gigantescas avenidas que atravessam a cidade, dividida em setores com atividades pré-determinadas, como o setor Hoteleiro, Bancário ou de Embaixadas.
Brasília tem ainda a maior área tombada do mundo, com 112,5 quilômetros quadrados.
Mas o que quase todos desconhecem, é que a história da construção de nossa belíssima capital federal começou ainda nos tempos do Brasil colônia, passando pelos anos do império e resistindo à proclamação da República.
Neste artigo, contarei uma breve história, uma linha do tempo, que culminou na inclusão da cidade como Patrimônio Mundial pela UNESCO, ao lado de cidades como Roma, Berlim, São Petersburgo, entre outras.
Como tudo começou
Antes de se tornar uma construção arquitetônica onde antes não havia sequer uma barraca de coco (tampouco um coqueiro), a ideia de levar a capital brasileira para o interior do país começou ainda no século 18, o que nos remete ao primeiro personagem: Marquês de Pombal.
Lembrete: o Brasil já teve outras duas capitais: Salvador (1549-1763) e Rio de Janeiro (1763-1960).
De volta ao Marquês de Pombal – uma das figuras mais controversas da história portuguesa – , foi dele a primeira iniciativa de não apenas manifestar o desejo de transferir a capital da então colônia para o interior, como contratar um cartógrafo (o italiano Francesco Tosi Colombina) para estudar a geografia do planalto central.
Inconfidência Mineira
Em 1789, no contexto da Inconfidência Mineira – movimento de caráter separatista que objetivava a proclamação de uma República independente e a abolição de dívidas de latifundiários junto à Fazenda Real – que o assunto (troca da capital) voltou à tona.
Porém, neste caso, os inconfidentes pretendiam levar a capital para São João Del Rei, alegando questões militares estratégicas e de incentivo ao povoamento da região.
Vale registrar que São João Del Rei, à época, fazia parte da chamada “rota do ouro”, entre o litoral de Paraty (RJ) e as cidades da região central de Minas Gerais, como Ouro Preto, logo, nos parece bastante óbvio que os inconfidentes defendiam antes de mais nada, seus próprios interesses econômicos.
Varrendo para debaixo do tapete?
Há quem defenda que a ideia de mudança da capital para longe de um grande centro urbano, teria como principal objetivo “acobertar a roubalheira” e fugir da pressão popular de uma cidade grande, como o Rio de Janeiro.
De fato, em 1810 o conselheiro de Dom João VI, Veloso de Oliveira, o advertiu para a conveniência de se levar a capital para um lugar mais “aprazível” e menos afeito a confusões do jogo político, mas a maturação da ideia de uma capital no Planalto Central vai muito além disso, tanto é verdade, que a cidade concentra hoje cerca de 3 milhões de habitantes.
José Bonifácio e o Correio Braziliense
Em 1813, o Correio Braziliense (não este que você conhece hoje), publicou o primeiro artigo (de muitos) defendendo a mudança da capital para o “interior central da cabeceira dos grandes rios”.
Cabe ressaltar que o autor da matéria, o jornalista Hipólito José da Costa, estava exilado em Londres, pela Inquisição, sob a acusação de disseminar ideias maçônicas na Europa.
Em 1821, um ano antes da nossa independência, entra em campo outra figura fundamental: José Bonifácio
Ele sugere que se levante uma cidade no interior do Brasil, mas muito mais do que isso, Bonifácio instruiu seus colegas deputados paulistas para que a cidade fosse construída na latitude 15, tal qual indicava o mapa de Francesco Tosi Colombina, encomendado pelo Marquês de Pombal, abordado no início deste artigo.
Na verdade, José Bonifácio defendeu que o território da nova capital, fosse na atual cidade de Paracatu (MG), de qualquer forma, percebam a proximidade.
Ele também sugeriu dois nomes para a cidade: Petrópolis e BRASÍLIA.
PS: Lembre-se também que nesta altura da história, os estados de Minas Gerais e São Paulo já haviam se tornado protagonistas políticos do Brasil Império.
Curiosidade
Em 1823 (após a independência), um desconhecido de nome Menezes Palmiro, chegou a apresentar a Dom Pedro, o projeto de uma cidade (futura capital) chamada Pedrália!
Fora de Alcance
Voltando a falar sério: com a independência declarada e o receio de um revide do reino de Portugal, a ideia de uma capital litorânea (que facilitaria um eventual ataque estrangeiro) voltou a preocupar as autoridades brasileiras.
Em 1831, o deputado João Cândido encaminha o primeiro projeto para a construção de uma nova capital na região central.
Em 1852, o Senador Holanda Cavalcanti (PE), apresenta outro projeto para a escolha de um terreno entre as latitudes 10” e 15”, entre os rios São Francisco, Maranhão e Tocantins, para ser destinado à futura capital do Brasil.
A atual cidade de Brasília é abastecida pelos rios São Francisco e Tocantins.
Leite, mel e os Salesianos
Em 1877, outro personagem importante, o historiador Francisco Adolfo de Varnhagen, faz uma viagem ao Planalto Central (atual cidade de Formosa) e faz uma publicação defendendo a construção da capital federal entre as lagoas Formosa, Feia e Mestre d’Armas, entre Planaltina e Formosa, cidades goianas já povoadas à época.
Em 1883, o padre Dom Bosco (fundador dos Salesianos) alegou ter tido um sonho profético, prevendo o nascimento da rica e próspera civilização da América do Sul, entre os paralelos 15 e 20.
“Entre os graus 15 e 20 havia uma enseada bastante longa e bastante larga, que partia de um ponto onde se formava um lago. Disse então uma voz repetidamente: -Quando se vierem a escavar as minas escondidas no meio destes montes, aparecerá aqui a terra prometida, de onde jorrará leite e mel. Será uma riqueza inconcebível.” escreveu ele.
Primeira constituição da República e a Missão Cruls
Eis que surge a primeira constituição do Brasil República (1891), que determinava em seu artigo 3:
“Fica pertencendo à União, no planalto central da República, uma zona de 14.400 quilômetros quadrados, que será oportunamente demarcada para nela estabelecer-se a futura Capital federal.
Em 1892, Floriano Peixoto (segundo presidente da República) formou a Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, que ficou conhecida ao longo da história como Missão Cruls e que finalmente determinou a demarcação da localização atual de Brasília, através de um quadrilátero que por anos constou nos mapas do Brasil.
Ao longo de sete meses, 22 pessoas percorreram 14 mil quilômetros, realizando demarcações e registrando dados sobre a fauna, a flora e os hábitos dos habitantes do sertão brasileiro.
Toniquinho da Farmácia e o “presidente sorriso”
Apesar da missão Cruls ter demarcado o quadrilátero onde seria a futura capital brasileira, e a manutenção do dispositivo que determinava a construção da nova capital federal nas 4 constituições que se seguiram ( 1891,1934, 1937 e 1946), quase 70 anos se passaram sem que nenhuma medida concreta fosse tomada.
Até que no dia 4 de abril de 1955, em Jataí (GO), durante o primeiro comício de Juscelino Kubitschek em sua campanha presidencial, um fato inusitado aconteceu, mudando para sempre a história brasileira.
Em um palanque improvisado na caçamba de um caminhão, JK fez um longo discurso, repetindo diversas vezes o compromisso de cumprir a Constituição.
Foi então que um simplório morador de Jataí, conhecido como Toniquinho da Farmácia, então com 29 anos, perguntou ao então candidato JK:
“O senhor mudaria a capital para o Planalto Central, conforme determinado pela Constituição?”
JK titubeou por alguns segundos e então respondeu: “Se eleito for, eu cumprirei integralmente a Constituição. Durante o meu quinquênio, farei a mudança da sede do governo e construirei a nova capital”.
Construção
Eleição ganha, chegava a hora de arregaçar as mangas: a nova capital federal foi planejada pelo urbanista Lúcio Costa, vencedor de um concurso promovido por Juscelino, sob orientação do arquiteto Oscar Niemeyer.
Um diferencial de Brasília em relação a maioria das cidades brasileiras é que seu plano urbanístico foi planejado desde o início. O projeto da construção é reconhecido até hoje como um dos mais completos e modernos de todo o mundo.
Oscar Niemeyer
Um dos mais importantes arquitetos brasileiros, Oscar Niemeyer, merece um capítulo à parte: ele elaborou os projetos dos primeiros edifícios de Brasília, como o Catetinho (primeira residência do presidente JK na cidade), o Palácio da Alvorada, o Brasília Palace Hotel, o Palácio do Planalto, a Praça dos Três Poderes, o Museu Nacional, e inúmeras outras obras.
Inauguração
Finalmente, à meia-noite do dia 21 de abril de 1960 (Dia de Tiradentes), Brasília foi oficialmente (e finalmente) inaugurada. Nas ruas da nova capital, os novos moradores não escondiam sua alegria e emoção.
“Viramos no dia de hoje uma página da história do Brasil. Damos por cumprido o nosso dever mais ousado, o mais dramático dever”, disse o presidente Juscelino Kubitschek em seu discurso de inauguração.
8 curiosidades sobre Brasília
Agora que passamos pela história da nossa capital federal, separei algumas curiosidades que detalham a grandeza, importância e belezas de Brasília.
Lago Paranoá
Um dos cartões postais de Brasília, o Lago Paranoá foi construído praticamente junto com a construção da cidade através das águas represadas do Rio Paranoá.
Como vimos anteriormente, desde as primeiras referências, ainda no século 19, havia a preocupação em aproximar a nova cidade das nascentes que dão origem a três grandes bacias hidrográficas brasileiras: Tocantins-Araguaia, São Francisco e Paraná.
Além disso, o clima predominantemente seco do Planalto Central, praticamente obrigou o projeto a contemplar a construção do Lago Paranoá, cavado numa espécie de arco em torno do Plano Piloto.
Em Brasília, é comum a umidade relativa do ar cair de valores superiores a 70%, no início da seca, para menos de 20%, no final do período.
Nos meses de agosto e setembro, a umidade relativa do ar pode chegar a 12%, uma secura típica dos desertos.
Vista aérea
Na vista aérea da cidade, é possível enxergar o formato de um avião em Brasília. No entanto, essa parece não ter sido a ideia inicial. Em entrevista à Rádio Nacional AM, Jarbas Marques, diretor do Patrimônio Histórico e Cultural, afirmou que Lúcio Costa, arquiteto que ajudou a planejar a capital, tinha a intenção inicial de que a cidade tivesse o formato de uma borboleta.
Sem esquinas
O projeto de Brasília se aproveitou da extensa planície característica da região, garantindo uma característica muito peculiar de nossa capital: a cidade não tem esquinas.
Nossa capital é dividida em quadras e setores e, em vez das conhecidas esquinas, as principais ruas e avenidas da cidade possuem um formato de “tesoura”
Maior bandeira do mundo
A maior bandeira do mundo está localizada em nossa capital, mais precisamente na praça dos Três Poderes, que tem esse nome por concentrar os edifícios que representam os três poderes da república: Executivo (Palácio do Planalto), Legislativo (Congresso Nacional) e Judiciário (Supremo Tribunal Federal).
A bandeira brasileira hasteada nesta praça possui 286m² e foi homologada pelo Guinness Book como a maior bandeira hasteada do mundo.
Maior que o Central Park
Brasília também abriga o maior parque urbano de toda a América Latina: o Parque da Cidade de Brasília, que possui aproximadamente 420 hectares, sendo inclusive maior que o famosíssimo Central Park, em Nova York.
Candango
A palavra candango, um adjetivo que virou sinônimo de brasiliense, surgiu inicialmente de forma pejorativa e espontânea para designar os trabalhadores que vinham de todos os cantos do país para a construção da capital.
O termo é originário da África (era a maneira como os negros intitulavam os portugueses) e inspirou a construção de um monumento conhecido como “Os Candangos” (inicialmente chamado de Os Guerreiros), localizado na já mencionada Praça dos Três Poderes, bem em frente ao Palácio do Planalto.
Foi criado em 1959 pelo escultor Bruno Giorgi e reconhecido pela UNESCO como um patrimônio da humanidade, para representar a união de dois guerreiros que simbolizam também a força e o equilíbrio entre os poderes da República.
“Céu de Brasília, traço do arquiteto”
O céu da capital brasileira é tradicional no imaginário brasiliense, além de inspiração para poetas e compositores. Especialistas defendem inclusive que o azul, o nascer e o pôr do Sol de Brasília devem fazer parte da Paisagem Cultural Brasileira.
O fato é que não importa a hora, seja durante o nascer do sol ou no crepúsculo, o céu de Brasília realmente impressiona.
Visita aberta e guiada
Em uma visita ao Congresso Nacional, os visitantes conhecem tanto a Câmara dos Deputados quanto o Senado Federal.
A visita é gratuita e aberta a todos e não há necessidade de agendamento.
Segundas e sextas-feiras: a cada meia hora, das 9h às 17h, saindo do Salão Negro. Nesses dias, o visitante deve registrar sua entrada no Edifício Principal, na área conhecida como “Chapelaria”.
Sábados, domingos e feriados: a cada meia hora, das 9h às 17h, saindo do Salão Negro.
Obs: Nesses dias, a entrada é pela rampa do salão.
A cidade reserva ainda diversas outras atrações, como o Memorial JK, a belíssima Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida, a Esplanada dos Ministérios, a ponte Juscelino Kubitschek, os Palácios do Planalto, Itamaraty e Alvorada, a torre de TV o Pontão do Lago Sul e diversas outras atrações.