Fluxo, um fator importante ao investir

Por: Eliseu Manica

Texto by Eliseu Mânica Junior

Nos últimos 2-3 meses, após o Banco Central Americano anunciar um “Quantitative Easing para sempre”, QE4EVER, o quarto Programa de Estímulos para a economia, acompanhado por outros bancos centrais mundiais, começaram a “pipocar”, gurus e investidores pessoa física mostrando seus retornos, alguns melhores que muitos gestores, combinada com uma confiança muito acima da média para quem está começando em investimentos em renda variável.

Nos Estados Unidos, um desses investidores que ganhou bastante projeção foi David Portnoy, um americano que vive atualmente na Flórida e que vem mostrando seus trades semanalmente, dizendo que tem dinheiro infinito e que é melhor que o lendário investidor Warren Buffett. Esse efeito vem sendo chamado de Portnoy Effect, efeito em que investidores que estão começando no mercado, possuem ganhos altos de curto prazo e têm uma confiança histórica acima da média.

Soma-se a esses retornos e a forte recuperação de curto prazo, assim como o equívoco aparente de curto prazo de alguns gestores e investidores como Warren Buffett, que vendeu companhias aéreas e cerca de duas semanas depois as ações do setor subiram 65%, assim como a venda das ações da Locadora de Veículos Hertz, vendidas por Carl Icahn, outro ícone dos investimentos e que “perdeu” na recuperação dessas ações cerca de US$ 1,6 bilhões, temos o cenário perfeito para o favorecimento de investidores pessoa física como o David Portnoy.

Por que esse movimento vem acontecendo e por que temos que manter os olhos abertos…

Se pegarmos desde 5 de junho, o S&P500 subiu 42,8% desde a queda em 23 de março. Foi o período de 50 dias em que tivemos a maior alta-recuperação desde agosto-setembro de 1932 (alta de 109,2%) e maio-junho (alta de 73,2%)! Uso dados da bolsa americana, pois nosso Ibovespa começou a contar em 1967, pouco tempo para termos mais dados. Da mínima, o Ibovespa subiu também impressionantes 52%!

MAMU (Mother of All Meltups ou Mae de todas as Disparadas):

Parte desse movimento começou no dia 23 de março, com o Banco Central Americano, o FED, anunciou incentivos monetários até a estabilização da economia, cujo balanço saiu de US$ 2,5 trilhões para um recorde de US$ 7,1 trilhões até 03 de junho. Tudo começou em 15 de março com a compra de Treasuries e Mortgage-Backed Securities na ordem de US$ 700 bilhões, além da queda nos Juros em 1%, levando-os para 0%. O Banco Central Europeu, o Banco Central Japonês e o FED colocaram juntos quase US$ 17 trilhões em incentivos, quantia similar a que tivemos de valorização nas bolsas mundiais em termos de valor de mercado, das mínimas até o movimento recente no início de junho de 2020, como podemos ver abaixo:

Todo esse movimento criou a MAMU (Mãe de todas as Meltups)…

Meltup é um termo usado nos Estados Unidos para descrever um movimento que acontece no mercado de maneira rápida, impulsionado pelo sentimento do investidor, com grandes volumes (coincidência com os aumentos de volume nas bolsas dos EUA e inclusive do Brasil?) e de alta volatilidade, como está sendo o ano de 2020, um dos mais voláteis da história!

Meltup é um movimento em que há um deslocamento dos fundamentos, em que há receio de ficar de fora, com o receio de perder o rally, o popular FOMO (Fear of Missing Out ou Medo de Ficar de Fora), somado a uma quantidade grande de investidores ingressando no mercado, trazendo uma volatilidade ainda maior ao mercado de ações, sendo que esse já é um dos anos mais voláteis da história..

2020 um dos anos mais voláteis da história

Utilizando dos dados do S&P500 pela questão de que temos um maior número de dados, iniciamos estudando o ano de 2020 e os movimentos em percentuais do S&P500:

Tivemos 32% dos dias oscilando  até 2%, 23% dos dias oscilando acima de 2% até 4%, 15% dos dias com uma oscilação entre 4% e 5% e assim sucessivamente.. já fazendo um comparativo com a Crise de 2008, temos:

Nota-se que a volatilidade de 2020 é maior que a volatilidade da Crise de 2008. Comparando com a Crise de 1929-1930, temos:

Sendo assim, fica mais claro que temos em 2020, um dos anos mais voláteis de nossa história, assim como no Brasil, mesmo com o Ibovespa iniciando no final da década de 60, tivemos apenas no mês de março, 8 circuit breakers de um total de 21 desde 1967 e após isso uma recuperação de mais de 60%, ou seja, um dos anos mais voláteis no Brasil também.

Todo esse movimento de volatilidade, somado a grande quantidade de dinheiro disponível para pessoas físicas nos EUA (um residente ganhou US$ 1.200 a título de ajuda), muitos em casa sem ter o que fazer, sem trabalhar, querendo ganhar dinheiro de forma fácil (muitos vêem o mercado de ações como um jogo, uma aposta, sendo que na realidade não é), taxas de juros nas mínimas mundiais e corretoras com corretagem a custo zero (nos EUA temos o Robinhood que aparentemente é de graça, digo aparentemente porque não existe almoço grátis, pois eles vendem as visualizações  das ordens de investidores para outros investidores, facilitando o trabalho de  operações para robôs traders que operam milissegundos, por exemplo) temos o ambiente propício para aparecimento de David Portnoy´s e outros investidores pessoa física, obtendo retornos no curto prazo, acima dos grandes investidores e grandes fundos.

Mas e os valuations importam? Onde estamos hoje em termos de valuations?

Já vimos que fluxos são importantes e que foi graças ao fluxo de entrada de investidores e outros fatores somados que tivemos a forte recuperação atual. Por ser consultor de valores mobiliários, ter Certificado de Especialista de Ativos, MBA, Master, ser fundador de uma Gestora-Asset e por ter a prova de Analista Técnico, acredito que sempre é importante mesmo assim, sempre prestar atenção nos fundamentos procurando uma racionalidade para os momentos atuais em termos de Brasil, EUA e mundo.

No Brasil estamos negociando a cerca de 12x lucros futuros, já colocando uma projeção de queda de 20% nos lucros das empresas brasileiras, segundo a Eleven, Casa de Research que pude conhecer pessoalmente em São Paulo, em março de 2020 e que gosto muito. Cabe salientar que os múltiplos do Ibovespa, devem ser um pouco maiores, eis que a taxa de desconto é muito menor, o custo de oportunidade é menor e os juros são os menores da história…

Já o S&P500, Ìndice da Bolsa Americana, negocia a patamares da bolha ponto com, o que nos dá um sinal amarelo, porém cabe salientar que nos anos 2000, os juros estavam em 6,5% ao ano e atualmente os juros americanos estão em 0,25%-0%, o que poderiamos ter um desconto maior..

No mundo todo, vimos uma elevaçao principalmente dos EUA quanto aos múltiplos históricos Em países emergentes estamos até abaixo de 2008, por exemplo,  e até no Japão isso já ocorreu. Lembro que há essa elevação nos múltiplos, sobretudo pelas empresas FAMGATS (Facebook, Amazon, Microsoft, Google, Apple, Tesla e Spotify) que atingiram patamares elevados e que têm um peso somados de quase 25% do Ìndice..

O que eu penso de tudo isso?

Mesmo com 16 anos como investidor e quase isso trabalhando profissionalmente no mercado, tenho muito o que aprender. Sobre o momento atual minha opinião é que observar o fluxo é muito importante, porém nunca devemos esquecer do lugar que estamos pisando!

Com toda a alta que tivemos recentemente, somada a uma maior quantidade de entrada de investidores principalmente no Brasil, além de juros baixos, mais do que nunca temos que prestar atenção na seletividade e qualidade das empresas investidas. Essa é uma tarefa fundamental para o investidor que dá valor ao seu dinheiro e que procura uma relação interessante de risco x retorno.

Investir em boas empresas, aliado à ciência de que o fluxo de investimento é importante, potencializa o retorno de longo prazo para os investimentos!

Era isso!!
Um grande abraço,
Eliseu Manica Júnior

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FONTE: https://bugg.com.br/2020/06/16/fluxo-um-fator-importante-ao-investir/

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