Follow-On: Entenda como funciona essa operação no mercado financeiro
Por: Willian PornerNo mundo, as empresas estão constantemente em busca de formas de levantar capital para financiar suas operações, investir em novos projetos, adquirir concorrentes e expandir suas operações. Uma das maneiras mais comuns de atingir esses objetivos é por meio de ofertas subsequentes de ações, conhecidas como “follow-on”.
Neste artigo abrangente, você poderá conferir os principais aspectos das ofertas de follow-on, desde o conceito básico até os detalhes da execução e os efeitos nas empresas e investidores.
Definição do termo Follow-On
O follow-on nada mais é do que o termo em inglês para oferta subsequente de ações que é realizada por empresas que já possuem ações listadas em bolsa de valores.
Diferentemente do IPO (Initial Public Offering, ou Oferta Pública Inicial), em que uma empresa torna-se pública pela primeira vez, o follow-on é um processo de captação de recursos para empresas que já possuem suas ações negociadas publicamente.
O Follow-on é uma maneira eficaz para as empresas arrecadarem capital adicional para diversos fins, como financiar projetos de crescimento, reduzir dívidas, investir em pesquisa e desenvolvimento ou adquirir outras empresas.
Tipos de Follow-On
Os follow-ons podem ser classificados em primários e secundários, com base nas características da oferta.
Follow-On primário: captação de recursos pela empresa para investimentos
No follow-on primário, a empresa emite e vende novas ações diretamente para o mercado, com o objetivo de captação de recurso adicional.
Essas novas ações emitidas são criadas pela empresa e, como resultado, o capital arrecadado vai para a própria empresa para financiar projetos, expansão, pesquisa e desenvolvimento, aquisições ou outras finalidades corporativas.
Os investidores que participam do follow-on primário compram essas novas ações, tornando-se acionistas da empresa. Isso pode diluir a participação dos acionistas existentes, uma vez que o número total de ações em circulação aumenta.
No entanto, a diluição é muitas vezes um trade-off necessário para que a empresa obtenha os recursos necessários para seus objetivos de crescimento.
Follow-On secundário: venda de ações por acionistas existentes
Já o follow-on secundário ocorre quando um ou alguns acionistas, com percentual relevante da empresa, desejam vender parte de suas ações já existentes no mercado.
O capital levantado no follow-on secundário vai diretamente para os acionistas vendedores, e não para a empresa. Portanto, a empresa não obtém financiamento direto com esse modelo
O principal objetivo para realização de um follow-on secundário é proporcionar, aos investidores com maior relevância no capital da empresa, liquidez para suas participações.
Os investidores que compram as ações no follow-on secundário adquirem ações da empresa de acionistas existentes, mas não contribuem diretamente para o capital da empresa.
Essa operação acaba sendo positiva também para os minoritários em virtude de ser uma proteção adicional com relação a oscilação da precificação de determinado ativo.
Motivações para realizar um Follow-On
As empresas optam por realizar ofertas de follow-on por várias razões estratégicas e financeiras. No dinâmico mundo dos negócios e das finanças, as empresas enfrentam uma série de desafios e oportunidades que exigem acesso contínuo a capital.
O principal objetivo? Levantar capital para executar algum plano estratégico para a empresa.
Expansão de negócios e investimentos
Nesse âmbito, uma das principais razões para as empresas realizarem um follow-on é financiar a expansão e o crescimento de suas operações.
O ambiente de mercado por muitas vezez é altamente competitivo, onde as empresas estão constantemente buscando alternativas de melhorar seus produtos e aumentar sua participação de mercado.
Para fazer isso, muitas vezes é necessário investir em novas instalações, tecnologias, equipe e marketing, ou seja, em formas de evoluir o produto final e melhorar a eficiência da empresa. O follow-on fornece uma fonte de capital que pode ser direcionada para essas iniciativas, permitindo que as empresas alcancem seus objetivos de crescimento de forma mais rápida e eficaz.
Projetos de grande porte, como construção de infraestrutura, expansão de instalações ou desenvolvimento de novos produtos, frequentemente requerem um financiamento. O follow-on oferece uma maneira eficaz de levantar os fundos necessários para concretizar esses projetos.
Em setores intensivos em capital, como energia, transporte e telecomunicações, o follow-on desempenha um papel muito importante, pois permitir que as empresas levantem recursos para projetos que podem impactar positivamente sua competitividade e eficiência.
Aproveitamento de oportunidades de mercado
Outra maneira de expandir em um determinado mercado é via aquisição de seus pares. É natural que empresas busquem oportunidades para adquirir concorrentes ou empresas complementares a fim de expandir suas operações ou fortalecer suas ofertas de produtos e serviços.
No entanto, as aquisições podem envolver um alto volume em recursos o que pode ser um fator desafiante em termos de financiamento.
O follow-on pode fornecer a flexibilidade financeira necessária para financiar aquisições estratégicas, permitindo que as empresas alcancem seus objetivos de consolidação.
Redução do endividamento da empresa
Algumas empresas enfrentam um nível de endividamento significativo e podem usar o follow-on como uma maneira de reduzir suas obrigações de empréstimo.
Isso melhora a estrutura de capital da empresa e reduz os riscos associados à alavancagem financeira. Uma estrutura de capital mais saudável além de reduzir os riscos, pode aumentar a confiança dos investidores, melhorar a classificação de crédito da empresa e reduzir os custos de financiamento futuros.
Flexibilidade Financeira
O follow-on também proporciona às empresas maior flexibilidade financeira. Captar recursos via follow-on pode permitir à empresa ter um fluxo de capital disponível sendo importante para que haja a possibilidade de responda rapidamente às oportunidades de mercado, como aquisições estratégicas, investimentos emergentes ou mudanças nas demandas dos clientes.
A flexibilidade financeira também é crucial para permitir que as empresas naveguem por desafios econômicos e se adaptem às condições em constante mudança.
Saída de acionistas e reestruturação societária
O follow-on proporciona aos acionistas existentes a oportunidade de realizar ganhos financeiros ao vender parte de suas participações. Isso pode ser particularmente relevante para investidores que buscam liquidez ou desejam diversificar seus investimentos.
Etapas de um Follow-On
Até aqui, você já aprendeu sobre o que é um Follow-on, os tipos e os motivos pelo qual são realizadas essas operações no mercado. Mas na prática, quais são as etapas do processo?
Preparação e análise interna da empresa
Um dos primeiros passos para uma empresa considerar um follow-on é avaliar suas necessidades de capital. Aqui estamos falando sobre examinar suas metas estratégicas, como expansão, aquisições, desenvolvimento de produtos ou redução de dívidas.
Com base nessas necessidades, a empresa determina a quantia de capital adicional requerida para atingir seus objetivos.
Contratação de assessores financeiros
Após identificar a necessidade de capital, a empresa seleciona intermediários financeiros, como bancos de investimento, para ajudar na condução do processo de follow-on.
Esses intermediários auxiliam na estruturação da oferta, avaliação dos mercados e precificação das ações.
Registro na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e na bolsa de valores
A empresa deve registrar a oferta junto às autoridades regulatórias pertinentes. Essas agências avaliam a conformidade da empresa com as regulamentações e a adequação das informações divulgadas no prospecto.
A aprovação regulatória é um requisito fundamental antes de prosseguir.
Divulgação da Oferta
Uma etapa muito importante e que os investidores estão mais acostumados de acompanhar é a divulgação de informações relevantes sobre a empresa.
Isso envolve a elaboração de um prospecto, um documento detalhado que fornece informações sobre a situação financeira da empresa, sua estratégia de negócios, riscos e perspectivas futuras.
O prospecto é submetido às autoridades reguladoras e disponibilizado aos investidores.
Uma outra fase da divulgação da operação é o roadshow. Essa etapa proporciona uma oportunidade para a empresa se conectar diretamente com investidores potenciais e apresentar sua estratégia de captação de recursos.
Durante o roadshow, a empresa compartilha informações detalhadas sobre seus planos de uso do capital, perspectivas de crescimento e as razões subjacentes para a oferta subsequente de ações.
Definição de preço e quantidade de ações a serem ofertadas
Para determinar o preço das ações no follow-on, os intermediários realizam um processo chamado “bookbuilding”. Isso envolve coletar ordens de compra de investidores interessados em participar da oferta.
Com base na demanda e na oferta, os intermediários determinam o preço de equilíbrio que maximiza a arrecadação de capital pelo ofertante e que atrai investidores.
Impacto do Follow-On no Mercado de Capitais
Há inúmeros exemplos de follow-ons ocorreram no mercado financeiro brasileiro ao longo dos anos.
Petrobras (2020)
No início de 2020 a Petrobras realizou a operação de follow on na ordem de 22 bilhões de reais. Nessa oportunidade o objetivo do follow on foi levantar recursos para a venda de participação detida pelo BNDES.
Nesta oferta foram vendidas 734,2 milhões de ações, onde o BNDES colocou em seu caixa pouco mais de 22 bilhões de reais. A venda ocorreu na B3 e na NYSE.
XP Investimentos (2020)
Ainda em 2020 a XP Investimentos também realizou um follow-on bilionário. O objetivo era a venda da participação que o Banco Itaú possuía na corretora e também realizar levantamento de recursos para o caixa da XP. Na oferta foram levantados cerca de 1,3 bilhões de dólares.
O Itaú foi responsável por cerca de 76% da oferta e vendeu cerca de 23,5 milhões de ações. A XP emitiu cerca de 8,2 milhões de novas ações e colocou no caixa cerca de 340 milhões de dólares, onde o objetivo seria ter recursos para oportunidades de crescimento.
Eletrobras (2022)
Em 2022 ocorreu a privatização da Eletrobras. Nessa oportunidade, assim como no caso da XP, ocorreu a oferta subsequente primária e secundária. O processo movimentou pouco mais de 802 milhões de ações.
No processo foram emitidas cerca de 732 milhões de novas ações e foram vendidas aproximadamente 69 milhões de ações pelo Estado.
A montante total da operações foi de 33,6 bilhões de reais.
Conclusão
Você pode perceber que as razões para as empresas já listadas em bolsa realizarem um follow-on são diversas e podem ser muito importantes para o seu crescimento e sucesso.
Desde financiar a expansão e investir em projetos de grande porte até aprimorar a inovação e melhorar a estrutura de capital, passando também por processos de privatização ou venda de participações relevantes pelo setor privado, o follow-on oferece uma ferramenta valiosa para enfrentar os desafios e capitalizar as oportunidades em um ambiente empresarial competitivo e dinâmico.
Ao avaliar as opções de financiamento, as empresas podem considerar o follow-on como uma estratégia eficaz para atingir seus objetivos estratégicos e financeiros de longo prazo de maneira mais eficiente.