Inflação, Estagflação, Desinflação e Deflação.

Por: Willian Porner

O que são e como os conceitos de Inflação, Estagflação, Desinflação e Deflação estão relacionadas com o ambiente econômico?

Introdução

O conhecimento dos conceitos ligados à inflação é fundamental para uma tomada de decisão econômica mais consciente e para a estabilidade e desenvolvimento econômico de um país. Conhecer sobre o assunto não é importante apenas para os agentes de estados ou o Banco Central.

Interpretar e reagir adequadamente às mudanças na taxa de inflação é crucial para indivíduos e empresas assim como para os formuladores de políticas econômicas.

A inflação é o aumento geral de preços, a estagflação combina estagnação/recessão econômica com taxas mais elevadas de inflação, a desinflação é uma redução na taxa de inflação e a deflação representa uma queda sustentada nos preços.

Cada um desses termos representa fenômenos econômicos que possuem implicações distintas para a economia. Neste artigo, você irá entender algumas das implicações e o que pode ser feito em cada uma das situações.

Inflação

A inflação é um conceito econômico que se refere ao aumento contínuo e generalizado dos preços dos bens e serviços em uma economia ao longo do tempo. Isso significa que, em um cenário de inflação, a quantidade de dinheiro necessária para adquirir os mesmos produtos ou serviços aumenta.

Existem diversas causas para a inflação, como:

Demanda maior que a oferta: Quando a demanda por bens e serviços excede a capacidade de produção da economia, os preços tendem a subir.

Custos de produção: Aumentos nos custos de matérias-primas, mão de obra, energia e outros fatores de produção podem levar a um aumento nos preços dos produtos finais.

Pressões salariais: Aumentos significativos nos salários podem levar as empresas a repassar esses custos para os consumidores por meio de preços mais altos.

Política monetária expansionista: Quando os bancos centrais aumentam a oferta de dinheiro na economia, isso pode levar a um aumento nos preços dos bens e serviços.

Características da Inflação

A inflação apresenta algumas características. A perda de poder de compra é uma delas, que ocorre com o aumento dos preços, onde a mesma quantidade de dinheiro permite adquirir menos bens e serviços, resultando em uma perda de poder de compra.

Outra característica é a redistribuição de renda: A inflação afeta diferentes grupos da sociedade de maneira desigual.

Pessoas com uma renda fixa (e aqui não estou falando sobre investimentos), como aposentados ou assalariados, podem ser mais afetadas, enquanto aqueles com ativos que se valorizam com a inflação ou que se protegem da inflação, como imóveis ou ações, podem se beneficiar ou serem menos afetados.

A inflação possui também como característica o aumento da incerteza econômica, o que pode dificultar o planejamento de longo prazo para empresas e indivíduos.

Além disso, é importante ressaltar que a inflação moderada pode ser considerada saudável para uma economia, pois indica um crescimento econômico estável.

No entanto, altas taxas de inflação podem ter efeitos negativos, como a perda de confiança na moeda e instabilidade econômica. Portanto, os governos e bancos centrais geralmente buscam controlar a inflação dentro de níveis considerados desejáveis.

Estagflação

A Estagflação é um termo econômico oriundo da combinação de duas palavras: estagnação e inflação.

Esse termo, é utilizado para descrever uma situação de estagnação econômica, baixo crescimento ou recessão econômica, por um período prolongado. Concomitantemente a isso, a presença de um aumento significativo da inflação.

Normalmente, a estagnação está associada a uma baixa demanda agregada, culminado em níveis mais altos de desemprego, queda na produção, ou seja, uma desaceleração da economia como um todo.

Por outro lado, como apresentamos mais detalhadamente na primeira parte desse texto, a inflação é o aumento contínuo e geral dos preços dos bens e serviços de uma economia.

Características da Estagflação

Normalmente, a estagnação econômica e a inflação não ocorrem simultaneamente, o que faz com que a estagflação possua características desafiadoras. Esse fenômeno pode ocorrer a partir de políticas econômicas inadequadas, desequilíbrios estruturais, crises financeiras, e talvez o mais característico: choques na oferta.

Uma das principais características da estagflação é o choque de oferta negativo, que pode ocorrer a partir de diversos episódios, sendo alguns exemplos como:

– Uma seca generalizada que acaba afetando as colheitas. A redução da oferta dos alimentos irá pressionar o preço desses alimentos para cima.

– Um cartel de petróleo internacional. Os principais produtores de petróleo do mundo podem elevar o preço internacional do petróleo, por meio da redução da produção.

Esses são 2 exemplos de choques adversos na oferta, que empurram os preços para cima, sem que tenha ocorrido um aumento na demanda agregada (que poderia caracterizar uma economia aquecida).

Portanto, uma combinação entre preços crescentes e produção decrescente é uma das principais causas da estagflação.

 Desinflação

Desinflação é um termo econômico utilizado para descrever a redução da taxa de inflação. É importante destacar que a desinflação não significa necessariamente a eliminação por completo da inflação, mas sim uma diminuição na sua taxa de crescimento.

Em outras palavras, Desinflação significa que a taxa de crescimento dos preços está diminuindo progressivamente, resultando em uma taxa de inflação mais baixa.

Características da Desinflação

Existem diversas razões pelas quais a taxa de inflação desacelera.

Uma delas é quando os bancos centrais entram em cena adotando políticas monetárias restritivas, como aumentar as taxas de juros ou reduzir a oferta de dinheiro na economia.

Essas medidas tendem a reduzir a demanda agregada, desencorajando o consumo e os investimentos excessivos, e consequentemente, controlar a inflação.

Políticas fiscais sólidas e responsáveis, mais ortodoxas, como o controle dos gastos públicos e a busca pelo equilíbrio das contas públicas, também podem contribuir para a redução da inflação.

Isso ocorre pois ajuda o governo no controle do endividamento público, o que poderia, em situações de descontrole orçamentário, déficits e crescimento da dívida, levar a pressões inflacionárias.

Outra situação positiva para redução das taxas de inflação, e que de certa forma pode decorrer de políticas fiscais sólidas, é possuir uma taxa de câmbio estável.

Uma moeda estável e forte pode ajudar a conter os aumentos de preços relacionados a importações, por exemplo. Uma forte desvalorização cambial pode impactar fortemente em preços de diversos bens, elevando a inflação.

Além disso, ancoragem das expectativas inflacionárias é fundamental para a redução da inflação ao longo do tempo. Quando os agentes econômicos, como consumidores e empresários, acreditam que a inflação será controlada, eles tendem a ajustar seus comportamentos e decisões de forma a contribuir para a estabilidade de preços.

O aumento da produtividade também pode contribuir para um ambiente desinflacionário.

Elevar os níveis de produtividade em diversos setores da economia pode levar à redução dos custos de produção e, consequentemente, à diminuição da pressão inflacionária. Isso pode ocorrer devido a avanços tecnológicos, melhorias nos processos produtivos, investimentos em capital humano, entre outros fatores.

Deflação

Deflação é mais um termo econômico que descreve uma queda generalizada no nível geral de preços de bens e serviços em uma economia em um determinado período.

Quando falamos de inflação, estamos nos referindo ao aumento constante e generalizados no nível de preços dos bens e serviços. Já aqui, a situação é justamente o contrário.

Em outras palavras, a deflação representa uma taxa de inflação negativa, onde o poder de compra do dinheiro aumenta ao longo do tempo, ou seja, os preços dos produtos e serviços diminuem.

Características da Deflação

A principal característica da deflação é a redução consistente e generalizada dos preços de bens e serviços em uma economia. Isso pode acontecer em diversos setores e afetar diversos produtos.

Apesar de inicialmente parecer benéfica para os consumidores devido à queda nos preços, uma deflação prolongada pode levar a uma série de problemas econômicos, como a recessão.

A deflação excessiva pode criar um ciclo de diminuição na produção, consumo e investimento, gerando uma espiral negativa na economia.

Um exemplo, seria o impacto no consumo. A deflação pode levar os consumidores a adiar suas compras na expectativa de que os preços possam cair ainda mais. Isso pode resultar em uma desaceleração no consumo e, por sua vez, afetar negativamente a demanda agregada na economia

Uma forma de combater um persistente ambiente deflacionário seria por meio das ferramentas de Política Monetária do Banco Central.

Os Bancos centrais podem reduzir as taxas de juros e implementar medidas de estímulo para impulsionar o consumo e os investimentos, estimulando assim a demanda e evitando uma espiral deflacionária prejudicial.

Cabe notar que o termo deflação possui um significado diferente de desinflação. A desinflação refere-se à desaceleração da taxa de inflação, ou seja, os preços ainda aumentam, mas a uma taxa mais baixa. Enquanto a deflação, por outro lado, envolve uma queda nos preços, portanto, uma taxa negativa.

Contextos Históricos

Inflação

Após a primeira Guerra Mundial, a Alemanha passou por um dos seus piores períodos inflacionários. Os Aliados exigiram que os alemães pagassem indenizações. Esses pagamentos provocaram grandes déficits fiscais fazendo com que o governo alemão financiasse esses pagamentos via emissão de moeda.

O aumento da base monetária provocou um aumento generalizados dos preços em um ritmo espantoso.

Os problemas fiscais causaram problemas inflacionárias na Alemanha, entretanto, a reforma fiscal impôs um término no problema inflacionário.

Ao final de 1923, houve redução no número de funcionários públicos, pagamentos de indenizações foram temporariamente suspensos e um novo banco central assume o compromisso de não financiar o governo central.

Estagflação

Como vimos anteriormente, choques de oferta são potenciais causadores de “estagflação”.

Na década de 1970, a OPEP coordenou uma redução na oferta de petróleo que praticamente dobrou o preço do produto, causando estagflação em diversos países industrializados.

Em 1974 o preço do petróleo subiu 68%, acarretando em um aumento da inflação e também um aumento na taxa de desemprego.

Nos Estados Unidos, a taxa de inflação saiu de 6,2% em 1973, para 11% em 1974 e 9,1% em 1975. Enquanto a taxa de desemprego saiu de 4,9% em 1973, para 5,6% em 1974 e 8,5% em 1975.

Desinflação

Ao final da década 1990, foram adotadas uma série de medidas econômicas para combater a inflação no Brasil e iniciar um processo de desinflação.

O governo implementou o Plano Real em 1994, que introduziu uma nova moeda, o Real, e estabeleceu um regime de metas de inflação.

O Plano Real foi acompanhado por uma política monetária mais rigorosa, com ações do Banco Central para controlar a oferta monetária e ajustar as taxas de juros de acordo com as metas de inflação estabelecidas. Além disso, medidas fiscais foram tomadas para melhorar o equilíbrio das contas públicas.

Esse conjunto de medidas contribuiu para um controle da inflação. Nos anos seguintes, a taxa de inflação brasileira foi gradualmente reduzida, passando de patamares elevados para níveis mais baixos.

Deflação

Um momento na história caracterizado por deflação foi a Grande Depressão dos anos 1930. De 1929 a 1933 o nível de preços caiu cerca de 25%. A Grande Depressão foi a pior e mais prolongada crise econômica do século XX, afetando severamente muitos países ao redor do mundo.

A deflação durante a Grande Depressão foi resultado de uma combinação de fatores econômicos e financeiros.

Alguns economistas, na década de 1930 acreditavam que a queda dos preços ajudaria a estabilizar a economia. Eles imaginavam que um declínio no nível de preços aumentaria o nível de renda e levaria a economia de volta ao pleno emprego.

Entretanto, a deflação exacerbou a crise, pois criou um ciclo de queda nos preços, o que levou a mais redução nos gastos e investimentos, desencadeando um aprofundamento do desemprego e da recessão.

No entanto, outros economistas apontavam para outros efeitos dos preços decrescentes. Eles explicavam esses efeitos por meio da teoria da deflação das dívidas e por meio dos efeitos da deflação esperada.

Considerações finais

Então, recapitulando, falamos aqui sobre o conceito de inflação e as suas possíveis causas como demanda maior que a oferta, custos de produção, pressões salariais e políticas fiscal e monetária expansionistas.

Falamos sobre Estagflação, seu conceito e sobre a sua principal características que é o choque negativo de oferta, onde citamos alguns exemplos e como possui ligação com um estado de recessão e inflação na economia.

Comentamos também sobre Desinflação e alguns motivos pelo qual há uma redução das taxas inflacionárias. Politicas monetárias e fiscais restritivas, melhoras nas taxas de câmbio, aumento da produtividade e expectativas ancoradas foram algumas das características que abordamos para comentar o processo desinflacionário.

E por fim, abordamos o assunto Deflação, que em um primeiro pode parecer algo benéfico, pois estamos falando de uma redução dos preços dos bens e serviços que pode, inclusive, significar um aumento da renda das pessoas. Entretanto, a longo prazo pode ser tão danoso ou até mais para economia do que a inflação.

Compreender cada um desses conceitos e termos utilizados acaba sendo muito importante. Há uma ligação com os ciclos da economia, e auxilia entender os impactos de politicas adotadas pelos agentes governamentais.

Além disso, esses termos trazem consigo uma interpretação da realidade econômica e acaba sendo fundamental entender todo o processo de inflação, estagflação, desinflação e deflação para as tomadas de decisão no que se refere a investimentos. E aqui me refiro a investimentos tanto no mercado financeiro como na economia real.

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