Lojas Americanas, Americanas: O rombo de bilhões e o impacto no mercado

Por: Ana Luisa Borsatto

O mês de janeiro de 2023 foi marcado pelo rombo estrondoso na maior varejista do Brasil. Dentro de uma semana, a Americanas teve troca de presidente, suas ações na Bolsa despencaram e tornou-se alvo de processo judicial. 

Quer saber o que aconteceu com a empresa e como isso tem afetado os investidores?  Vem ler esse artigo que eu te explico de forma objetiva tudo isso.

O que aconteceu com a Americanas em Janeiro de 2023.

Foi no dia 11 de janeiro de 2023, depois do fechamento de mercado, Sergio Rial, que havia assumido o cargo de CEO das lojas Americanas, no dia 02 de janeiro, apenas 9 dias antes do fatídico dia, renunciou ao seu cargo após encontrar “inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões nos balanços de 2022 e anos anteriores. André Covre, que recentemente havia sido empossado diretor de Relações com Investidores, também deixou o cargo.

Dois dias depois, no dia 13 de janeiro, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) concedeu à empresa, uma medida de tutela cautelar, onde a decisão estabeleceu o prazo de 30 dias para que a Americanas apresentasse um pedido de recuperação judicial.

O que é o processo de recuperação judicial?

A Recuperação Judicial é um processo pelo qual a empresa em crise econômico-financeira pode buscar renegociar suas dívidas e pagamentos junto aos credores. O objetivo da recuperação judicial é que a empresa possa manter a atividade econômica, dos empregados e função social.

Como mencionei no início, o rombo encontrado inicialmente foi de R$ 20 bilhões, mas a empresa já citou risco de vencimento antecipado de R$ 40 bilhões em dívidas. Para apuração do valor exato a companhia irá passar  por auditoria.

Após esgotarem os pedidos de renegociação com os credores, no dia 19 de janeiro a empresa entrou com pedido de recuperação judicial, meio pelo qual, a Americanas poderá suspender e renegociar parte das suas dívidas e evitar assim o encerramento das suas atividades. A companhia admite agora ter uma dívida de R$ 43 bilhões.

Assim, podemos lembrar que a empresa não faliu, permanecendo com suas operações, vendas em lojas físicas e on-line.

Algo que deve estar martelando em sua cabeça é como um rombo de bilhões desapareceu dos balanços da empresa?

Uma operação comum entre os varejistas é pegar empréstimos com bancos para comprar material de seus fornecedores, essa operação é chamada de “risco sacado”. Dessa forma, os bancos antecipam o valor ao fornecedor, e o varejista quita a dívida com as instituições financeiras, pagando juros pelo empréstimo. 

Porém, no caso da Americanas, a “inconsistência contábil” ocorre, porque essa operação não foi registrada de maneira correta no balanço. O lançamento registrado foi como despesas com fornecedores, sendo que deveriam ter sido computadas como dívidas financeiras.

Agora, a empresa terá que republicar seus balanços, reconhecendo sua dívida. Ao realizar isso, haverá uma alteração no grau de endividamento, e a mudança nestes indicadores financeiros. Estas alterações poderão servir de gatilho para vencimento antecipado de dívidas com bancos, isso porque, as empresas varejistas possuem contratos com essas instituições financeiras, os quais incluem cláusulas de garantia.

Como você entendeu um pouco mais sobre o que aconteceu com a companhia Americanas, vamos ver como o mercado reagiu a este rombo.

Reação do mercado financeiro e como ele reagiu após notícias da Americanas

Ações

Após a renúncia de cargo do CEO e o anúncio das “inconsistências contábeis”, no dia seguinte, quinta-feira, 12 de janeiro, as ações da Americanas (AMER3) recuaram 77,3%, fechando a R$ 2,72, sendo considerada a maior queda de uma empresa da carteira do Ibovespa, desde 1994, segundo Valor Data. 

Esse acontecimento acabou afetando outras ações do setor varejista. Isso porque o anúncio do rombo de Americanas abalou a confiança dos investidores.

Na quinta-feira, dia 19, após Americanas realizar o pedido de recuperação judicial, a B3, bolsa brasileira, informou a exclusão dos títulos da varejista, negociada sob código AMER3, de todos os índices a partir da sexta-feira, dia 20, incluindo ainda o ISE B3, que se refere à práticas ESG. 

Isto ocorre porque, pelas regras da B3, as empresas que estão em recuperação judicial não são elegíveis para fazer parte de índices da Bolsa. A retirada do ativo dos índices além de diminuir sua visibilidade, diminui o número de negociações, liquidez e ocorre a desvalorização no valor do ativo Americanas. 

Além das ações da companhia e de outras varejistas terem sido afetadas, vamos entender quais outros investimentos podem estar sofrendo com essa reviravolta.

Debêntures

Bem, as debêntures são títulos de crédito emitidos por empresas e negociados no mercado de capitais. 

Possuem algumas características que lembram os títulos públicos emitidos pelo Tesouro Direto, só que em vez de financiar o governo, o investidor empresta dinheiro a uma empresa que através da emissão destes títulos, capta recursos que poderão ser destinados a expansão de operações, construções de indústrias, ou qualquer outro investimento.

É importante que você saiba que debêntures são diferentes de ações de empresas. Enquanto as debêntures são papéis de dívida, consequentemente, o investidor empresta seu dinheiro para uma empresa, que paga por esse recurso uma taxa já determinada no momento da contratação do título, semelhante aos títulos bancários como CDB. Já as ações representam frações de capital de uma empresa, onde o investidor se torna sócio da mesma. 

Além da taxa que o investidor já sabe no momento da compra da debênture, é possível saber a data de vencimento que já está definida para o título, normalmente, mínimo de dois anos, podendo chegar a dez anos.

Para os investidores, as debêntures podem ser uma vantagem na diversificação da carteira, pois seus retornos costumam ser mais altos se comparado a outros papéis de renda fixa. 

Porém, apresenta como desvantagens o fato de que algumas, possuem prazos de vencimento muito longos, não sendo possível o resgate do valor aplicado. Caso precise dos recursos, o investidor terá que recorrer ao mercado secundário.

Por representarem um empréstimo, o principal risco destes títulos é o calote das empresas emissoras, ou seja, que elas não realizem o pagamento dos juros prometidos, ou realizem a devolução do valor investido, ou no pior dos casos, as duas coisas.

Ao contrário dos CDBs e Letras de Crédito, as debêntures não possuem o seguro do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), porém, os papéis podem oferecer garantias que sejam acionadas para assegurar os pagamentos caso haja problemas com a empresa emissora, como, bens integrantes do ativo da empresa, sob forma de hipoteca, penhor, entre outras maneiras.

Como aqui o foco é entender o impacto nos investimentos relacionada a companhia Americanas, vamos olhar para as debêntures emitidas por ela. 

As debêntures da companhia, referente a 17º emissão, foram emitidas em julho de 2022, com vencimento em 15 de julho de 2033, sendo negociadas a uma taxa de remuneração de CDI + 2,75% ao ano, e envolvem uma dívida de 2 bilhões.

No dia 19 de janeiro, após a Americanas entrar com o pedido de recuperação judicial, as debêntures sob o código LAMEA7, eram negociadas com desconto de quase 100% em relação ao preço da curva. 

A varejista já havia anunciado que não realizou o pagamento da remuneração precisa aos seus debenturistas por causa da decisão judicial, antecedente ao processo de recuperação.

Fundos de Investimento 

Os fundos imobiliários funcionam como uma espécie de “condominio” de investidores, onde reúnem recursos para aplicação em um mesmo grupo no mercado imobiliário. 

O dinheiro é utilizado geralmente na construção ou aquisição de imóveis, que depois podem ser locados ou arrendados. Os ganhos obtidos nesta operação, são divididos entre os participantes (cotistas), na proporção em que cada um aplicou.

O gestor é quem tomará as decisões sobre o que fazer com os recursos, sendo que, deverá seguir os objetivos e políticas pré-definidas, tendo em vista que, os investimentos podem ou não ser bem sucedidos, determinando assim, a valorização ou a desvalorização das cotas dos fundos.

Os fundos podem ser classificados em grupos: fundos de tijolo, papel ou híbrido.

No fundo de tijolo, os investimentos são realizados em ativos reais, ou seja, em imóveis de fato, e costumam ganhar com aluguéis. Costumeiramente fazem parte da composição da carteira, shoppings, galpão logístico, prédios comerciais, entre outros imoveis físicos. 

Os fundos de papel compram títulos ligados ao mercado imobiliário, ao invés de imóveis em si. Podem ser letras de crédito imobiliário (LCI), letras hipotecárias (LH), certificados de recebíveis imobiliários (CRI), entre outros títulos imobiliários. 

Já os fundos híbridos, mesclam em sua carteira, tanto papéis do segmento imobiliário como em imóveis físicos.

Alguns fundos imobiliários possuem exposição a shoppings que têm as Lojas Americanas como inquilinas, o que acaba gerando preocupação aos investidores. 

Com o eventual fechamento de unidades da varejista, a locação destas lojas pelos shoppings terá alguns desafios, uma vez que, poucas empresas têm capacidade de ocupar os espaços locados para as Lojas Americanas. 

É importante salientar que em nota oficial à imprensa, as Lojas Americanas pontuou que irá seguir operando normalmente dentro das regras da recuperação judicial, onde tem por objetivo a manutenção de empregos, o pagamento de impostos e relacionamento com fornecedores, credores e investidores. Desta forma, a empresa informou ainda que o grupo 3G Capital Partners (formado pelos sócios Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Hermann Telles), informou ao presidente do conselho de administração, que pretende manter a liquidez necessária para o bom funcionamento das operações de todas as lojas.

Espero ter ajudado você a compreender melhor o que vem acontecendo com as Lojas Americanas, e como o rombo de bilhões tem impacto na carteira de investimentos de muitos investidores.

Se você ainda está com alguma dúvida quanto aos impactos que sua carteira poderá sofrer, e ainda quer buscar diversificar seus ativos para mitigar riscos, entre em contato que podemos lhe direcionar para uma assessoria de investimentos.

 

 

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