O que é dinheiro?
Por: jessicaAgora que você já entendeu, que a Economia. Neste artigo vamos abordar um conceito igualmente importante e que provavelmente seja a razão de você estar aqui: o conceito de dinheiro.
O conceito acadêmico de dinheiro, a exemplo do que vimos em economia, é bastante amplo e complexo, e também é abordado por diferentes teorias econômicas e campos de estudo.
Mas, de maneira geral, o dinheiro pode ser definido como um meio de troca universalmente aceito em transações comerciais, com o objetivo de facilitar a compra e venda de bens e serviços. Além disso, o dinheiro também é frequentemente utilizado como unidade de conta e reserva de valor.
No artigo que explicamos o que é economia, fizemos referência ao livro Crash, do jornalista brasileiro Alexandre Versignassi e, em relação ao dinheiro, ele também traz um conceito bem interessante sobre: a de que o dinheiro é algo que todo mundo quer, mas que necessariamente precisa ser escasso, por que do contrário, todo mundo teria, e se todo mundo tivesse, não valeria nada e se não vale nada, não pode ser dinheiro.
O jornalista traz como analogia a água – que é de acesso quase universal, e a comida, que infelizmente, ainda não é acessível a todos, ao menos não na mesma proporção, para fixar melhor essa analogia.
Já no livro Sapiens, do israelense Yuval Noah Harari, o dinheiro é tratado como mais uma ficção criada por nós sapiens, assim como as empresas, o Estado e os times de futebol. No entanto, no caso do dinheiro, trata-se da mais popular ficção já criada pela humanidade, superando inclusive a religião.
Não iremos trilhar esse caminho espinhoso, voltamos aos conceitos mais acadêmicos. Falamos anteriormente em três características do dinheiro:
- que ele pode ser usado como meio de troca,
- unidade de conta,
- reserva de valor.
Pensando no dinheiro como um meio de troca, tenha mente que ele, nada mais é que um instrumento que as pessoas aceitam em troca de bens e serviços. Ao longo da história humana, várias coisas buscaram cumprir esse papel como o próprio alimento, o couro, o sal e etc.
Gostaríamos que você fixasse a ideia de pensar no dinheiro como um instrumento criado e evoluído por nós, para simplificar o processo de transação, finalmente eliminando a necessidade de trocas diretas de mercadorias.
Pensando o dinheiro como uma unidade de troca, percebemos que ele também serve como uma unidade padrão para medir e comparar o valor de diferentes bens e serviços, mais ou menos como o metro, o quilo ou os graus celsius. Ao fazer isso com o dinheiro, facilitamos a fixação de preços e a compreensão do valor relativo dos itens.
Por fim, olhando para o dinheiro como reserva de valor, entendemos que o Dinheiro também é uma forma de armazenar valor ao longo do tempo.
As pessoas podem, e devem, poupar ou guardar dinheiro para usar em transações futuras. Isso contrasta com algumas formas de troca direta, onde os bens podem perder valor com o tempo.
O dinheiro também pode assumir várias formas, incluindo moedas, cédulas de papel, depósitos bancários e até mesmo formas digitais. A aceitação geral do dinheiro em transações é essencial para que ele desempenhe efetivamente suas funções na economia.
É importante notar que o conceito de dinheiro foi evoluindo, sendo aprimorado ao longo do tempo e varia em diferentes contextos econômicos e culturais.
As teorias monetárias e a compreensão do papel do dinheiro numa economia são temas complexos que envolvem também outros aspectos como política monetária, inflação, oferta de moeda e sistemas financeiro.
Como o dinheiro foi criado?
Você já pensou como o dinheiro foi criado?
Agora, vamos explorar uma parte fascinante da história econômica: a primeira moeda cunhada a partir de metais preciosos e a primeira moeda “falsificada” da história.
Porém, antes disso, precisamos entender como as antigas sociedades lidavam com as trocas, especialmente a partir de 10.000 8.000 anos antes de Cristo, quando os seres humanos passaram a dominar a agricultura.
Esse momento marca uma transição muito importante na história humana: de caçadores-coletores a pequenos agricultores, um período onde as transações comerciais eram muito mais simples. No entanto, com o avanço da agricultura, surgiu também a necessidade de criar meios de troca mais eficientes.
Até então, peixe seco, couro, bebidas alcoólicas, alguns tipos de conchas, o sal (de onde surge a palavra salário), são alguns exemplos de coisas que cumpriram o papel de dinheiro.
Então você já deve ter percebido que o título deste artigo: Como o dinheiro foi criado, é sob o ponto de vista da primeira moeda, cunhada com metais preciosos, casos do ouro e da prata por exemplo, porque de outra forma, seria impossível contar como o dinheiro foi criado, porque o dinheiro e a sua função, confundem-se com a própria história humana há pelo menos 10.000 anos.
Agora imagine você, vivendo nessa época, se vendo diante da seguinte oportunidade de negócio: trocar um saco de grãos por uma peça de roupa nova.
A ideia parece um pouco estranha, mas era mais ou menos assim que os negócios eram feitos na época, o que levanta algumas dificuldades. Imagine que você quisesse comprar roupas para toda a família, imagine ter que carregar sacos e sacos de grãos por uma grande distância?
Além, é claro, do fato de que o seu saco de grãos é perecível, mas pode ser facilmente divisível, como meio saco de grãos, ou ¼ ou ⅓, só que o mesmo não pode ser dito de uma peça de roupa, ou de uma cabeça de gado?
Foi então que uma solução surgiu no antigo Reino da Lídia, no coração da Anatólia, no que hoje é a Turquia. O Reino da Lídia é o que temos de mais antigo, historiograficamente, como o epicentro de uma inovação econômica muito importante e que se mostrou um caminho sem volta.
Por volta do século VII a.C., os lídios iniciaram uma revolução cunhando moedas com metais nobres, como ouro e prata.
As moedas lídias resolveram muitos problemas. Diferentemente das peças de roupas e da cabeça de gado, elas eram divisíveis, duráveis e facilmente reconhecíveis e a qualidade do metal garantia confiança nas transações, porque a cunhagem dessas moedas era controlada pelo Estado.
É claro que estamos lidando com um conceito de Estado muito diferente do que é visto hoje, mas quem “garantia” o valor dessas moedas lídias, era o rei Lídio Gyges, que funcionava, a grosso modo, com o papel desempenhado hoje pelo Banco Central.
A cunhagem das moedas lídias marcou o início de uma nova era nas trocas comerciais.
Como os Estados criaram o “dinheiro de mentira”?
O reino da Lídia, no atual território da Turquia, que como indica a historiografia moderna, pode ter sido o primeiro Estado a centralizar a cunhagem de moedas feitas a partir de metais nobres.
Avançamos um pouco mais até a lendária dracma ateniense, a moeda oficial de Atenas, berço da democracia ocidental e em como a economia da cidade foi impactada pela crise de 594 a.C.
Vamos descobrir como o estadista Sólon trouxe soluções inovadoras para contornar essa crise, com uma solução muito conhecida, também nos tempos atuais.
Na Atenas antiga, muitos camponeses estavam endividados e eram incapazes de pagar suas dívidas.
As terras estavam concentradas nas mãos de poucos, resultando em desigualdades sociais e econômicas, e com um complicador, de acordo com as leis de Atenas, quem não honrasse suas dívidas, virava escravo do credor da dívida. Então, era bem comum as pessoas endividadas, darem seus filhos, suas esposas em troca do pagamento da dívida, o que obviamente se transformou em um grande problema social.
Parece um assunto bem atual, mas a concentração de terras, as práticas de empréstimo predatórias e a falta de reformas agrárias contribuíram para a crise agrícola.
Consequentemente, o comércio enfrentava dificuldades devido à instabilidade econômica e à falta de confiança nos meios de troca, já que a crise econômica afetou a confiança nas transações comerciais, dificultando as atividades econômicas e criando uma crise de confiança na moeda.
Em resposta a esses desafios, Sólon, o estadista ateniense da época, implementou um pacote de reformas para aliviar as dívidas, redistribuir terras e promover uma maior igualdade social.
Em tese, Sólon poderia comprar, com o dinheiro do Estado, a produção da das pessoas mais pobres e endividadas, mas naquela época, como hoje, o Estado não possuía esse dinheiro todo.
Foi então que o Sólon resolveu dar um jeito, à sua maneira: ele passou a misturar metais mais baratos na cunhagem das moedas, que passaram a ter em sua composição apenas 73% de prata, o resto era cobre.
Se isso ocorresse nos dias atuais, certamente teríamos outro tipo de consequência, mas acontece que na época, o plano de Sólon deu certo, a população seguiu confiando no Dracma, e o Estado passou a injetar mais dinheiro na economia, que serviu para financiar novas plantações de trigo, de oliveiras, de videiras e para pagar dívidas, evidentemente.
Na prática, Sólon inventou um dinheiro falso, de mentirinha, porém, ele usou a medida com sabedoria, o suficiente para conter a crise e esse plano econômico de Sólon, foi fundamental para a criação de uma outra invenção ateniense: a democracia, mas isso é uma outra história.
E se você não está acreditando nessa história, eu te convido a abrir a sua carteira, ou acessar o aplicativo do seu banco: o seu, o meu, o nosso dinheiro, é feito 100% de um papel que, na prática, não possui valor algum, e ainda assim, te motiva a trabalhar tanto quanto um agricultor ateniense para ganhá-lo.
O que realmente interessa, na prática, é que qualquer pessoa, quer você conheça ou não, acredita que a sua nota de R$50,00, emitida pelo Banco Central brasileiro, vale, de fato, R$50,00 reais. Quer um exemplo?
No fim de 1994, ano da criação do plano Real, havia aproximadamente R$10 bilhões de reais em circulação no Brasil, no fim de 2018 (24 anos depois), esse número já estava em R$ 218 bilhões.
O PIB, em 1994, era de US$550 bilhões, 24 anos depois, ultrapassava os US$ 2 trilhões e tudo bem, é assim mesmo, como vimos anteriormente, sobre o conceito do que é dinheiro, ele só precisa ser algo que todo mundo queira e confie no seu valor atribuído, desde que não seja abundante o suficiente, porque do contrário todos teriam e quando todos possuem alguma coisa, ela passa a ter menos valor e se não vale nada, não pode ser definida como dinheiro.
Eu espero que você tenha entendido um pouco mais sobre a história da criação do dinheiro e também do dinheiro de mentirinha, esses conceitos serão fundamentais no restante dos nosso artigo.
Como os Estados criam dinheiro?
Depois de entender melhor o que é economia, o que é dinheiro, como e porquê ele surgiu, chegou a hora de entendermos o conceito de uma dinâmica fundamental para o entendimento do funcionamento do mercado de capitais: agora vamos entender por que os Estados ao longo da história optaram por centralizar a emissão de dinheiro.
Para entender isso, precisamos voltar no tempo.
Imaginar uma época em que cada região, as chamadas cidades-Estado, emitem sua própria moeda. Como vimos quando abordamos a evolução do dinheiro, as trocas eram complexas, e a confiança no valor dessas moedas era algo extremamente incerta.
Pensando assim, parece meio inevitável que o curso da história levasse mesmo a uma padronizar uma moeda emitida pelo Estado, as transações tornaram-se mais simples e eficientes.
Além da simplificação, a padronização ajudou a promover a confiança na moeda. As pessoas passaram a reconhecer e confiar em moedas emitidas pelo Estado, o que facilitou o comércio e promoveu, por consequência trouxe uma maior estabilidade econômica.
Porém, a centralização também deu aos Estados um controle total sobre a oferta de dinheiro, o que permitia ajustes conforme as necessidades econômicas, evitando crises inflacionárias ou deflacionárias.
Além disso, ao emitir moeda própria, o Estado facilitou a arrecadação de impostos, já que a exigência de pagamentos em sua própria moeda tornou a coleta de receitas mais eficiente.
Agora, vamos relembrar a fascinante experiência das moedas lídias e entender como essa civilização antiga, que vivia em um território onde hoje fica a Turquia, contribuiu para a evolução do sistema monetário.
Sob o reinado do Rei Lídio Croeso, por volta do século VI a.C., ocorreu uma transformação significativa no sistema monetário quando o Rei Croeso introduziu as moedas de electrum, que eram feitas a partir de uma mistura que variava em proporções de ouro e prata e essa variação resultava em moedas com tons diferentes e elas e também não seguiam um padrão rígido em termos de forma ou tamanho. Lembre-se que estamos falando de um processo de cunhagem ainda bastante primitivo.
Essa história começou ainda antes, ainda na Lídia, com o rei Giges por volta do século VII a.C., introduzindo as primeiras moedas feitas de metal, incluindo ouro e prata, proporcionando uma base para a criação das famosas moedas de electrum sob o reinado de seu sucessor, o Rei Croeso.
Ao entendermos o contexto da Lídia percebemos que suas moedas lídias não eram apenas inovações monetárias, mas um reflexo da necessidade de estabilidade e confiança em uma era de crescente atividade comercial.
E essa lição do passado continuou a moldar o entendimento de como os Estados modernos criam e controlam dinheiro nos dias de hoje. Vamos explorar essa conexão a partir de agora.
Bom, os Estados podem criar dinheiro de várias maneiras, e é importante notar que a criação de dinheiro está diretamente ligada às políticas monetárias implementadas pelos bancos centrais.
Mas, engana-se que a criação de dinheiro novo em uma economia está relacionado apenas à imagem que todos temos na cabeça quando se fala no assunto: aquela lembrança de enormes impressoras fazendo a impressão de novas cédulas sem parar. Na verdade existem diversos outros mecanismos envolvidos, porém, é verdade que a impressão de dinheiro físico, como notas e moedas, seria a maneira mais direta, ainda que em tempos digitais, não seja a mais utilizada, como fora no passado.
Uma maneira muito utilizada pelos Estados para criar mais dinheiro nas suas respectivas economias atende pelo nome de depósito compulsório. Os quais são reservas financeiras obrigatórias aos bancos comerciais, por isso a palavra compulsório, a manter junto ao banco central de um país.
Essa prática é uma ferramenta de política monetária utilizada para controlar a oferta de dinheiro na economia. Os bancos são forçados a depositar uma porcentagem específica de seus depósitos totais no banco central, ajudando a regular a liquidez no sistema financeiro e influenciar a atividade econômica.
A alteração nos requisitos de depósitos compulsórios pode impactar a disponibilidade de dinheiro para empréstimos e, assim, afetar o crescimento econômico e a inflação: quando um Estado, através de seu governo, decide aumentar o percentual dos depósitos compulsórios, ele está na prática, drenando parte do dinheiro em circulação ou à disposição dos bancos comerciais para as suas operações, para deixá-lo depositado no Banco Central e o contrário também é verdadeiro: quando um governo opta por diminuir o percentual dos depósitos compulsórios, ele está, sem a necessidade de imprimir mais dinheiro, injetando um dinheiro já existente na economia.
Os Estados, através de seus Bancos Centrais, podem comprar ou vender títulos da dívida no mercado financeiro, para afetar a quantidade de dinheiro em circulação. Compras de títulos injetam dinheiro na economia, enquanto vendas de títulos retiram dinheiro. Lembrando que os títulos da dívida soberana dos Estados, são práticas extremamente comuns em praticamente todos os países do mundo. Aqui no Brasil, o programa que permite que pessoas físicas como nós, compre ou venda títulos da dívida do governo é chamado de Tesouro Direto.
Por enquanto tenha em mente apenas que quando um Estado compra títulos da dívida, ou recompra, já que ele mesmo é o emissor, ele está ajudando a injetar dinheiro na economia, enquanto as vendas de títulos retiram dinheiro.
Outra forma muito comum e bem conhecida da maioria de vocês são as alterações nas taxas de juros, aqui no Brasil chamada de Selic.
As alterações nas taxas de juros, para mais ou para menos, influenciam a quantidade de dinheiro em circulação. Reduzir as taxas de juros torna o empréstimo mais barato, incentivando o gasto e a tomada de empréstimos. Quando você tem mais pessoas consumindo ou tomando empréstimos, você tem mais dinheiro em circulação na economia e o contrário também é verdadeiro: elevar as taxas de juros torna o empréstimo mais caro, desincentivando os gastos e a tomada de novos empréstimos. Essas medidas normalmente são tomadas com instrumentos de controle inflacionário.
Temos também as chamadas operações de redesconto, que é quando o Banco Central empresta ao banco tomador um valor inferior ao do ativo dado em garantia. Quando o banco for saldar o empréstimo ele irá recomprar o ativo pelo seu valor pleno. Isso também afeta a quantidade de dinheiro disponível para os bancos emprestarem.
As intervenções no mercado de câmbio para aumentar ou diminuir o valor da moeda nacional em relação a outras, como no caso do dólar, também podem afetar a quantidade de dinheiro em circulação.
Em circunstâncias extraordinárias, como vimos recentemente durante a pandemia de Covid-19, os governos podem injetar dinheiro diretamente na economia, como ocorreu em programas de estímulo econômico.
Por fim, os governos podem influenciar a quantidade de dinheiro na economia por meio de suas políticas fiscais, como por exemplo, no aumento ou diminuição dos gastos públicos ou das taxas cobradas pelos impostos.
Bom a ideia deste artigo era mostrar primeiramente, que a centralização da emissão de dinheiro pelos Estados foi uma construção histórica iniciada ainda no século VII antes de Cristo e que atualmente, apesar de ainda centralizar a política monetária, os Estados desenvolveram diversos instrumentos para aumentar ou diminuir a oferta monetária em suas economias e que aquela ideia de impressoras enormes imprimindo dinheiro sem parar é uma ideia um tanto quanto ultrapassada.