Recompra de ações – Uma alternativa para tributação de dividendos

Por: Gustavo Urasaki

Com o crescimento da divulgação sobre educação financeira na sociedade e da importância de investimentos para uma aposentadoria mais tranquila, muitos investidores estão entrando no mercado de ações.

Uma das estratégias mais difundidas para investimentos em ações, muito por sua simplicidade, são estratégias de investimentos em empresas chamadas de ‘boas pagadoras de dividendos’.

Porém há um tema que deixa os investidores dessas estratégias inquietos: tributação de dividendos.

O que será do mercado de ações caso os dividendos sejam tributados?

Siga comigo até o final desse artigo e entenda como funciona o mercado de dividendos hoje e o que deverá acontecer caso os dividendos sejam tributados aqui no Brasil.

Tópicos do artigo:
1. O que são ações
2. O que são dividendos
3. Tributação de dividendos no Brasil
4. Impacto da distribuição dos dividendos nas ações
5. Recompra de ações
6. Por que empresas recompram ações?
7. Recompra de ações como forma de remuneração aos acionistas
8. Dividendos x Recompra de ações
9. Recompra de ações na prática
10. Conclusão



1. O que são ações

Antes de iniciar falando dos dividendos e recompra de ações, acho importante nivelarmos nosso conhecimento explicando, rapidamente, o que são ações.

Ação é a menor parcela do capital social de uma empresa.

Ao comprar uma ação, você se torna sócio dessa empresa, passando a correr os riscos do negócio, participando tanto de seus lucros quanto dos prejuízos.

Vamos supor que uma empresa possui 100 ações. Caso você compre 10 ações dessa empresa, você possuirá 10% da empresa.


2. O que são dividendos

Os dividendos são a parcela do lucro líquido que a empresa distribui para seus acionistas.

O objetivo de toda empresa é gerar lucro, porém nem todas as empresas que conseguem gerar um lucro pagam dividendos.

Ao ter um lucro, a empresa pode destinar esse montante de diversas formas, como reinvestir no seu crescimento, antecipar o pagamento de dívidas, ou distribuir para seus sócios.

Cada empresa tomará sua decisão, de acordo com seu desempenho financeiro e suas estratégias.

As empresas que pagam dividendos com frequência, em geral são empresas mais consolidadas que possuem pouco espaço para crescimento, e/ou que não demandam mais de altos investimentos para se manterem competitivas no mercado.

Por isso, ao invés de manter o lucro total dentro da própria empresa, parte desse lucro é distribuído para seus acionistas.

Dessa forma, caso você tenha ações de uma empresa que decida distribuir parte de seus lucros em forma de dividendos, você receberá um valor proporcional ao número de cotas que você possui.

Por exemplo: a Empresa possui 10 cotas e irá distribuir R$10.000 de dividendos.
Portanto, serão distribuídos R$1.000 por cota.


Portanto, quanto mais cotas você possui de uma empresa, mais dividendos você receberá.

Esse fluxo de renda, mesmo que as ações da empresa se desvalorizem, é o que mais atrai os investidores que seguem estratégias de investimentos em dividendos, além da sua tributação (ou ausência dela).


3. Tributação de dividendos no Brasil

Os dividendos são isentos de imposto de renda (IR) no Brasil.

Além do Brasil, a Estônia e a Letônia, são os únicos territórios que não cobram impostos na distribuição de lucro líquido.

Até 1995 os dividendos eram tributados em 15% no Brasil, porém esse imposto foi eliminado, considerando que seria aumentado a alíquota do IRPJ (Imposto de Renda de Pessoas Jurídicas).

Dessa forma, ao invés de tributar as pessoas físicas (PF), o IR passou a ser tributado apenas dentro das empresas.

Periodicamente surgem novas discussões para acabar com a isenção de imposto de renda para pessoas físicas, porém, uma alegação contrária, é que haveria uma bitributação, sendo necessária uma reforma tributária completa.


4. Impacto da distribuição dos dividendos nas ações

Muitos investidores em estratégias de dividendos gostam do fluxo financeiro em suas contas, porém não entendem muito bem o funcionamento dos dividendos, dentro do capital social e seu impacto na cotação das ações das empresas.

Primeiramente, vamos entender que o lucro líquido faz parte do capital financeiro de uma empresa.

Portanto, uma empresa que vale R$1 milhão, por exemplo, tem esse valor considerando todo seu capital.

Caso a empresa distribua R$100 mil, ela retirará esse valor de dentro da empresa e irá distribuir para os acionistas.

Portanto, a empresa deixará de valer R$1 milhão e passará a valer R$900 mil.


Vamos imaginar que a empresa possui 100.000 ações.

Como a empresa valia R$1 milhão, cada cota valia R$10 (R$1.000.000 / 100.000 ações).

Agora que foram distribuídos R$100.000 em dividendos e a empresa tem o novo capital de R$900.000, cada cota passou a valer R$9 (R$900.000 / 100.000).

Ou seja, você, como acionista tem os mesmos R$10, porém agora você possui R$9 em valor de ação e R$1 recebido em dividendo para utilizar da forma que achar mais interessante.


4.1 Impacto da distribuição dos dividendos nas ações na prática

Na prática é possível visualizar essa redução de valor da cota, porém não de forma tão exata, visto que além desse fato, as ações estão em constante volatilidade natural de mercado.

Vamos verificar esse fato no exemplo abaixo:

No dia 16/09/21 a empresa Vale anunciou a distribuição de R$40,2 bilhões (US$ 7,6 bilhões), equivalente a R$8,1083 por ação.

As ações da Vale foram negociadas ex-dividendos a partir de 23 de setembro de 2021.

Isso significa que até dia 22/09/2021 quem tem as ações da empresa receberão o dividendo. Quem comprar a partir do dia 23, estaria comprando as ações já considerando o novo capital da empresa, ou seja, sem os valores dos dividendos.

Nas imagens abaixo é possível verificar que as ações da Vale fecharam o dia 22 (último dia com direito aos dividendos) a R$87,11.

Já no dia 23 (primeiro dia de ações considerando o novo capital da empresa), as ações abriram as negociações em R$79,20.

Ou seja, um desconto de R$7,91, muito próximo dos R$8,1083 distribuídos via dividendos.

5. Recompra de ações

A recompra de ações ocorre quando uma empresa decide ir ao mercado e comprar suas próprias ações que estão em circulação, utilizando parte de seu dinheiro em caixa.

Dessa forma, ocorrerá uma redução na quantidade de ações em negociação na Bolsa.

É importante ressaltar, que não são todas as ações das empresas listadas que são negociadas em bolsa.

A quantidade de ações em livre circulação no mercado e que são negociadas em Bolsa é chamada de free float e varia de acordo com cada empresa.

Essas ações recompradas podem ser utilizadas de diversas maneiras pela empresa, a depender de sua estratégia.


6. Por que empresas recompram ações?

A recompra de ações é uma forma da empresa gerar valor para seus sócios/acionistas, assim como a distribuição de dividendos, bonificações, valorização das ações, dentre outras formas.

Ao anunciar um programa de recompra de ações, a empresa pode ter vários objetivos como:
     • Remuneração de funcionários: através de bonificação em ações por metas atingidas, por exemplo;

     • Recompra para revenda futura: Caso a empresa tenha muito dinheiro em caixa e veja que suas ações estão subvalorizadas, a empresa pode recomprar ações e mantê-las em caixa para, por exemplo, revendê-las no futuro caso haja uma oportunidade de ganhos ou necessidade de dinheiro em caixa;

     • Remuneração dos acionistas: com a recompra de ações, a empresa pode cancelar essas ações. Dessa forma, com menos ações existentes, as ações que estão em circulação se valorizam.

Com a tributação de dividendos, é comum que as empresas busquem outras formas de remunerar seus acionistas, e a recompra de ações é uma forma muito utilizada em países onde os dividendos são tributados, pois nesse modelo não há tributação.

Nos Estados Unidos da América (EUA), por exemplo, os dividendos são tributados em 30%!

Ou seja, o governo fica com 30% dos dividendos que você recebe.

Por isso, é comum que empresas dos EUA façam recompra de ações ao invés de pagar dividendos.


7. Recompra de ações como forma de remuneração aos acionistas

Ao recomprar ações em circulação no mercado e as cancelarem o efeito financeiro será semelhante ao pagamento de dividendos, porém a sua participação na empresa irá aumentar.

Vamos à um exemplo:

Vamos pensar naquela empresa que vale R$1 milhão em valor de mercado e possui 100 mil ações.

Cada cota dessa empresa vale R$10 (R$1.000.000 / 100.000 ações).

Agora ao invés de distribuir dividendos, ela irá utilizar os R$100.000 de lucro líquido em um programa de recompra de ações.

Com esse valor a empresa consegue comprar 10.000 ações.

Portanto, agora há 90.000 ações em circulação para a empresa que vale R$900 mil.

R$900 mil / 90.000 ações = R$10/ação


Em questões financeiras, podemos verificar que tanto os dividendos quanto as recompras de ações possuem um resultado semelhante.

Porém, em questão de participação na empresa, a recompra faz com que você tenha uma maior participação.

Vamos supor que você tinha 1.000 ações da empresa. Nesse caso você tinha uma participação de 1% (1.000 / 100.000) da empresa.

Agora que existem apenas 90.000 ações em circulação, você possui 1,11% (1.000 / 90.000) da empresa.


8. Dividendos x Recompra de ações

É comum que investidores prefiram receber dividendos ao invés de recompra de ações, por ver aquele fluxo financeiro entrando em sua conta e ter a liberdade de fazer o que bem entender com esse valor.

Se você pensa dessa maneira, te proponho a fazer uma reflexão.

Qual a rentabilidade média de sua carteira de investimentos?

Você consegue uma rentabilidade de aproximadamente 20% ao ano no longo prazo?

Se sim, parabéns, pois você pode ser comparado ao famoso Warren Buffett, um dos maiores investidores do mundo!

Essa rentabilidade aproximada de 20% ao ano é a média de rentabilidade conseguida por Warren Buffet em 56 anos à frente da sua empresa, Berkshire Hathaway.

Agora eu te pergunto, quem tem o maior potencial de multiplicar o dinheiro, você ou o Warren Buffett?

É claro que nem todos os gestores de empresas possuem um potencial de valorização como o Warren Buffett, porém a análise que você deve fazer é a mesma.

Você investe nessa empresa pois acredita no potencial dos gestores? Qual a rentabilidade média da empresa comparado com a rentabilidade de sua carteira? Quem é mais eficaz em rentabilizar o dinheiro?

Essas perguntas farão com que você avalie se é vantajoso você investir em uma empresa que tem a tradição de realizar recompra de ações ou de distribuir dividendos.

9. Recompra de ações na prática

Avaliando o mercado dos Estados Unidos, que possuem tributação de dividendos e onde a recompra de ações é mais popular, podemos avaliar o desempenho das ações que costumam recomprar suas ações comparado à média de mercado.

No gráfico abaixo temos, em laranja, um ativo que representa a média das empresas que recompraram um determinado volume de suas ações. Em azul, um índice que representa o índice S&P500, que é o índice da bolsa nos EUA.



Podemos verificar que as empresas que recompram suas ações, tiveram uma performance acima da média de mercado.


10. Conclusão

As empresas possuem diversas maneiras de remunerar seus acionistas, entre elas a distribuição de dividendos e a recompra de ações.

Grande parte dos investidores brasileiros preferem o fluxo financeiro do recebimento de dividendos, porém com a possível tributação dos dividendos as empresas deverão utilizar cada vez mais as recompras de ações.

Na prática a recompra de ações funciona de forma semelhante se você recebesse o dividendo e comprasse mais ações dessa mesma empresa, porém sem pagar o imposto de renda, caso seja aprovado.

Isso fará com que os investidores se preocupem cada vez mais com a qualidade das empresas das quais estão se tornando sócias.

Agora que você entende como funciona a recompra de ações e os dividendos, que tal buscar outros conteúdos aqui no site?

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