Sustentabilidade, economia circular e upcycling

Por: Camila Fernandes

O tema “Desenvolvimento sustentável” está sendo muito comentado nos meios sociais, governamentais, empresariais e acadêmicos há um longo tempo, as discussões sobre esse tema tem apresentado um crescimento exponencial desde a década de 60. Sob a ótica da empresa, desenvolvimento sustentável significa principalmente que a organização deve criar valor para a sociedade, em relação ao cuidado com a natureza, diminuindo os impactos ambientais causados por ela no meio ambiente. 

Estudos, pesquisas e projetos relacionados à sustentabilidade têm sido cada vez mais encorajados, com o intuito de promover a redução dos efeitos negativos causados ao meio ambiente. Muitas indústrias também têm se preocupado com o impacto ambiental que causam devido a sua produção e geração de resíduos, e estas buscam constantemente, procedimentos que minimizem esses impactos.

A inovação no processo de desenvolvimento de produtos (PDP), revelando positivamente os impactos e práticas de modelos circulares de negócios, onde a busca pela produção de mercadorias utilizando menos matérias primas “virgens”, através da redução, do reuso e reciclagem de materiais e energias, tem crescido muito, sendo uma possível solução para buscar um desenvolvimento mais sustentável.

A ideia de que tudo o que é produzido, pode voltar para a produção em seu próprio sistema ou em outro ciclo produtivo, em vez de virar resíduo, tem tido uma boa repercussão nas organizações, revelando um grande avanço nas últimas décadas; estudos, projetos, práticas e pesquisas sobre a mesma tem acontecido, acarretando benefícios consistentes não só para a literatura, mas também para o setor empresarial, porém, muitas empresas parecem ainda ter dificuldade em ver a economia circular como um paradigma de geração de receita, ao invés de algo arriscado e caro.

O trabalho excessivo para o desenvolvimento sustentável gerou muitos conceitos relacionados ao mesmo, atualmente conhecidos como economia circular, economia verde, empreendedorismo verde e negócios verdes.

O conceito de empreendedorismo verde pode ser considerado análogo também a outros conceitos como empreendedorismo sustentável, ecoempreendedorismo e empreendedorismo ambiental. Em geral, estes termos referem-se a modelos de negócios que se baseiam nos princípios do desenvolvimento sustentável em suas atividades, com objetivo de reduzir o impacto ambiental; e dessa forma nasceram muitas práticas e projetos relacionados a essa área, como por exemplo, a redução de resíduos.

Sustentabilidade, economia circular e o upcycling

A economia circular é um sistema inovador que minimiza a quantidade de recursos, resíduos, emissões e perdas de energia, o que reduz, fecha e estreita o consumo de matérias-primas e energia usadas. Esses objetivos podem ser alcançados por meio de projetos sustentáveis, manutenção, reparo, reutilização, reprocessamento, renovação e reciclagem de produtos e materiais, a ideia principal da maioria dessas práticas é alcançar novos usos ou prolongar a vida útil dos mesmos.

O upcycling é um modelo de negócio circular útil que visa evitar o descarte de materiais úteis. Em suma o objetivo principal do upcycling é reduzir o consumo de novas matérias-primas, ou seja, visa reutilizar produtos e materiais para a criação e produção de novos produtos, o que pode levar, por exemplo, a uma redução no consumo de matérias primas, energia, poluição do ar e da água.

A implementação de uma visão progressiva de sustentabilidade ambiental acabará se tornando um pilar da estabilidade econômica. Essa visão pode ser chamada de acordo verde e apoia a necessidade de prestar atenção à crise econômica e climática que assola o mundo atualmente. A preocupação com a proteção da natureza aumenta a cada dia e isso se deve à degradação do planeta. 

Essa preocupação é o resultado também do crescimento de notícias publicadas sobre o assunto e, consequentemente, tem-se um aumento em relação a importância, a conscientização e o reconhecimento de uma atitude de proteção e cuidado em prol do meio ambiente. 

Os resíduos sólidos são um dos grupos mais importantes de causadores de poluição ambiental, tanto pela grande quantidade gerada pela população (lixo urbano) quanto pela produção industrial em massa. A preocupação com a grande geração de resíduos também é um dos pilares da gestão de empresas que buscam ser ambiental e socialmente responsáveis, de igual modo, esse tema é um dos 17 objetivos da ONU da agenda 2030; o (ODS12)-Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 12, tem como meta  garantir padrões sustentáveis ​​de produção e consumo.

A concretização de uma visão de sustentabilidade ambiental progressiva torna-se um pilar de suma importância a nível global, tanto para governo e sociedade quanto para empresas, e a essência é, atenuar resíduos através de otimização do ciclo de vida dos produtos. Para atingir esse objetivo, é importante que a prevenção, redução, reciclagem e reaproveitamento de matérias-primas sejam implementadas na sociedade e nas organizações. 

Essas medidas são pensadas para que as dimensões ambiental, econômica e social alcancem resultados de forma mais efetiva. É um paradigma conhecido como triple bottom line ( conceito de gestão que valoriza e estimula a sustentabilidade de maneira abrangente nas empresas, os pilares ambiental, econômico e social são a base que uma empresa deve ter ao medir seus resultados). 

A economia circular (CE) propõe que os sistemas de produção lineares, que são aqueles que extraem recursos da natureza e os utilizam como matéria-prima para a fabricação de produtos, e a disposição final desses produtos é o descarte (se tornam resíduos) sejam substituídos por sistemas que utilizem a reciclagem, a reutilização, a remanufatura, reparação, o compartilhamento e a reintegração, visando a diminuição do uso de energias e matérias primas consideradas “ virgens”.

 A economia tradicional é composta ainda em grande parte por um sistema linear ao qual a reciclagem não faz parte, uma economia linear como já mencionado extrai recursos, produz bens e descarta resíduos; esse modelo foi responsável pela destruição ambiental e um acúmulo significativo de resíduos, e, portanto foi necessário a busca por um novo meio de produção, então a Economia Circular surge como uma das tendências modernas mais importantes da sociedade, sendo uma combinação de atividade econômica e bem-estar ambiental.

A Economia circular é um conceito enraizado em diversas escolas e teorias que questionam os sistemas econômicos lineares predominantes, visto que estes assumem que os recursos são infinitos. Ela foi projetada para eliminar resíduos durante todo o processo produtivo (montagem, uso, desmontagem, entre outros) fundamentada no reaproveitamento, sem vazar o sistema para descarte ou mesmo reciclagem. 

O conceito de Economia Circular se desenvolveu de tal forma que hoje os tomadores de decisão política, pesquisadores e organizações, bem como a comunidade, reconhecem cada vez mais a necessidade de avançar para um novo modelo econômico, onde materiais e energia são obtidos a partir de produtos e materiais descartados, que são reintroduzidos no sistema produtivo novamente.

 Nota-se que a ideia principal da economia circular é criar fluxos circulares reduzindo ao máximo os resíduos gerados nos processos, reduzindo significativamente o uso de novas matérias-primas, trazendo esses resíduos de volta ao ciclo produtivo. 

Um outro exemplo utilizado na economia circular é a prática da reciclagem, que propõe que os resíduos funcionem como insumo para a produção de novos produtos. A reciclagem possibilita a fabricação de novos produtos que podem ser considerados sustentáveis ​. A reciclagem reduz a quantidade de resíduos gerados que passariam anos em aterros sanitários e lixões.

Além disso, reduz a necessidade de buscar matérias-primas para produzir novos produtos. Assim, a reciclagem é uma espécie de modelo circular, pois integra os resíduos na produção de um novo produto, o que promove e estimula a circulação e a sustentabilidade. Pode-se perceber que existem várias práticas (reuso- upcycling, reciclagem etc.) que contribuem com a mudança de uma economia linear para uma economia circular.

Aproveitamento de resíduos

Resíduos sólidos são resíduos nos estados sólidos e semi-sólidos gerados pelas atividades da sociedade, e podem ser de origem: industrial, domésticos, hospitalares, comerciais e agrícolas. Na indústria, são provenientes de atividades em diferentes setores como metalurgia, química, petroquímica, indústria de papel, indústria alimentícia e são bastante diversos, podendo ser representadas por cinzas, lodos, óleos, resíduos alcalinos ou ácidos, plástico, papel, madeira, fibras, borrachas, metais etc. 

Os resíduos sólidos geralmente consistem em matéria orgânica biodegradável, material orgânico não biodegradável (plástico) e substâncias inorgânicas não degradáveis ​​(vidro, metal etc.) 

A quantidade de resíduos industriais é grande e por isso a indústria deve repensar suas atividades para reduzir essa massa, uma das formas introduzidas ao longo do tempo é a economia circular.

A ideia final de uma economia linear deve ser substituída por fluxos de reciclagem circulares modernos. 

 Estudos mostram que depois da matéria orgânica, a maior parte dos resíduos urbanos coletados no Brasil é plástico (13,5%), seguido de papel e papelão (13,1%), e vidro (2,4%). A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) incentiva a prevenção e redução da geração de resíduos por meio de mudanças nos padrões de consumo mais sustentáveis ​​e promove práticas de reciclagem, reuso de resíduos sólidos e destinação adequada dos mesmos.

Na perspectiva da Economia Circular, tem-se que reciclar é pior que remanufaturar, que por sua vez é inferior a reutilizar, e por fim é pior que compartilhar ou prolongar o uso; já que na remanufatura existem canais que permitem o recolhimento, a manutenção e a redistribuição do mesmo, quando um produto se torna obsoleto, ou já não pode ser reparado, ele é encaminhado para ser desconstruído e os seus componentes reaproveitados para a produção de novos produtos. Quando nenhuma destas soluções é viável, então os recursos devem ser encaminhados para os processos de reciclagem adequados. 

Então nota-se que, o material reaproveitado, reutilizado ou manufaturando volta ao processo produtivo em forma de matéria prima para a confecção de novos produtos ou até mesmo para o próprio produto, o que diminui o uso das matérias primas “virgens”, porém, na maioria das vezes novos recursos são utilizados juntamente com elas para a fabricação do produto. Já o prolongamento amplia a vida útil dos produtos reduzindo assim a necessidade de produzir novos produtos e componentes (com matéria prima “virgem”, ou de reciclagem e reuso) para a fabricação do mesmo, o que leva uma contínua redução de novos recursos (matérias primas, energia, trabalho, etc.), e de igual forma, o compartilhamento tem como princípio dividir, facilitando a distribuição  e a troca de serviços ou produtos, potencializando a sua utilidade e diminuindo também a necessidade de utilização de novos recursos.

Empresas e a Economia Circular

Muitas empresas já adotaram muitas práticas de economia circular, e elas são bem-vistas pela sociedade, governo e possíveis investidores. Acompanhe abaixo alguns exemplos de empresas que já possuem modelos de negócios circulares.

Coca-Cola Uma das empresas mais famosas e bem-sucedidas a nível global trabalha com a ideia de uma economia circular: foi o que fizeram no seu 100º aniversário, quando colaboraram com outra empresa (Verallia) para derreter garrafas. O material resultante foi usado para criar novas embalagens que apresentam 100% de reciclagem.
Unilever A Unilever é parceira da Ellen MacArthur Foundation. Em parceria elas trabalham para desenvolver produtos rápidos, colaboram com outros gigantes do setor para criar mudanças sistêmicas nos ciclos de embalagens plásticas e desenvolvem a capacidade de implementar mudanças em todos os níveis de negócios (já que a Unilever oferece produtos  de alimentos a cuidados pessoais).
Apple Uma das maiores empresas de tecnologia a nível global trabalha com a economia circular antes mesmo  do tema se tornar popular. Todas as lojas da Apple aceitam seus produtos para reciclagem gratuita, e o programa Apple Renew oferece descontos para clientes que trazem celulares antigos para comprar novos por um preço menor. Eles também trabalham com a Fundação Ellen MacArthur. O lixo tecnológico é um dos lixos mais agressivos para o meio ambiente, e essa prática ajuda muito para a redução dos mesmos, se todas as empresas de tecnologias adotassem esse projeto, muito se faria ao meio ambiente.
Natura A empresa anunciou uma parceria com a Latcom, empresa especializada em mídia OOH (Out of Home), e a fundação “Gestionar Esperanzas” no programa de economia circular. A fundação atua no cuidado com o meio ambiente, inclusão social e desenvolvimento humano e comunitário de crianças e famílias vulneráveis. 

 A iniciativa está alinhada a um dos objetivos da marca, “Mais beleza, menos desperdício”, por meio do qual a empresa doa material de suas campanhas e o recompra depois que o material já foi transformado em novos produtos, como bolsas, mochilas. e sacos de higiene

   

Rede Asta A empresa combina circulação e inclusão social. A organização transforma lixo pós-industrial em arte com uma rede de mais de 60 grupos de mulheres artesãs espalhadas por 10 estados brasileiros. 

 Os produtos são artesanais e utilizam “resíduos” como matéria-prima. A empresa carioca também opera uma plataforma virtual acessível a artesãos brasileiros, oferecendo capacitação em empreendedorismo e reciclagem de materiais. O que desencadeia uma atividade econômica positiva em comunidades brasileiras de baixa renda.

Quer conhecer mais sobre Desenvolvimentos sustentável?! Dedique uns minutos de leituras nos artigos abaixo:

Tudo que você precisa saber sobre ESG – Environmental, Social and Governancehttps://centraldoinvestidor.com/tudo-que-voce-precisa-saber-sobre-esg/

Energia renovável – https://centraldoinvestidor.com/energia-renovavel/

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