Política cambial: O que é e como influencia na economia
Por: Gustavo UrasakiVivemos em um mundo cada vez mais globalizado, onde podemos viajar para outros países e comprar bens que são produzidos no outro lado do mundo.
Com os governos não é diferente. Os países também fazem negócios entre si e isso acaba afetando toda nossa vida, desde o preço do pão e do café, até o preço da gasolina.
Essas relações acabam trazendo uma maior complexidade de administração econômica para o país.
Leia o artigo e entenda como funciona a política cambial e como ela afeta sua vida diária.
1. O que é política cambial?
2. Taxa de câmbio
3. Como funciona a política cambial?
4. Regimes de política cambial
5. Tipos de política cambial
6. Instrumentos da política cambial
7. O impacto da política cambial na economia
8. As políticas macroeconômicas: cambial, monetária e fiscal
9. Conclusão
1. O que é política cambial?
Quando falamos de câmbio, muitas pessoas acreditam que é um assunto apenas para pessoas ricas, que viajam para o exterior ou que compram coisas importadas.
Porém, não é nada disso.
A política cambial e o câmbio, afetam diversas coisas na vida de todos nós, visto que hoje, todos os bens de consumo são globais.
Te faço um pequeno desafio.
Veja a etiqueta das roupas que está usando. Pense nas marcas que você usa no seu dia a dia. Veja os produtos que você usa.
Acredito que a maior parte das marcas, produtos e até mesmo a produção das suas roupas são de outros países.
Essa é a força da globalização hoje em dia.
Além disso, itens básicos, como milho, trigo, minérios, petróleo, carne, e praticamente tudo que pensarmos é negociado no mercado internacional, com preços em dólar.
Não temos como fugir dessa realidade hoje em dia, por isso é essencial que você entenda a importância da política cambial.
Junto com a política monetária e a política fiscal, a política cambial, é uma das políticas macroeconômicas utilizadas para manter um padrão econômico no país. São elas que ajudam o governo a manter índices como inflação, crescimento econômico, equilíbrio da balança de pagamentos, dentre outros, sob controle.
A política cambial é um conjunto de instrumentos utilizados para buscar o controle das relações comerciais e financeiras entre o país com outros agentes econômicos externos, ou seja, de nosso país com os outros países.
Com a política cambial o governo busca manter a balança de pagamentos equilibrada. A balança de pagamentos representa, de forma simplificada, o saldo de dinheiro que entrou ou saiu do país em moeda estrangeira.
Caso a entrada de moedas for maior que a saída, o governo aumenta a sua reserva financeira.
Caso a saída seja maior que a entrada, teremos diminuído nossas reservas.
2. Taxa de câmbio
A política cambial utiliza a taxa de câmbio como uma de suas principais métricas para avaliar se os instrumentos estão sendo efetivos.
A taxa de câmbio é o preço em moeda nacional necessário para se adquirir uma unidade de uma moeda estrangeira.
Por exemplo, em 2000, a taxa cambial estava em torno de 1,8 para 1. Ou seja, eram necessários, R$1,80 para comprar US$1 (dólar norte americano).
Já em 2021, a taxa estava próxima de R$5,30 para cada US$1 dólar que você quisesse trocar.
A taxa cambial não é fixa. Ela varia com o tempo, de acordo com inúmeras variáveis, mas principalmente a lei da oferta e da demanda.
Ou seja, se a procura por uma moeda estrangeira for maior, a taxa irá subir, pois aquela moeda ficará mais cara.
Se a procura por aquela moeda cair e a procura pela moeda nacional aumentar, a taxa cairá, pois a moeda estrangeira perderá seu valor.
3. Como funciona a política cambial?
Ao realizar qualquer transação internacional precisamos realizar um câmbio, ou seja, trocar uma moeda por outra.
Vamos usar no exemplo a seguir a taxa cambial de 2021, de R$5,30 para cada US$1
Se somos exportadores de produtos, iremos vender nosso produto e receberemos em dólares, por exemplo. Com isso, teremos que converter esse dólar em reais para utilizarmos dentro do país.
Nesse cenário, se a taxa cambial estiver alta, melhor será, pois com a mesma quantidade de dólar, o vendedor conseguirá mais reais. Imagine que a taxa está R$6,00 para US$1, por exemplo.
Se o exportador vendeu um item por US$1.000 e receberia R$5.300, agora ele receberá R$6.000 pelo mesmo item.
Agora se a taxa cair para R$4,00, será muito ruim, pois ao invés dele receber R$5.300, ele receberá apenas R$4.000, o que irá desincentiva-lo a vender para fora, ou aumentará o preço (em dólar), o que poderá reduzir a demanda por seu produto.
Portanto, uma taxa cambial alta favorece os exportadores. E uma taxa cambial baixa prejudica os exportadores.
Agora vamos pensar em um importador.
Ele compra um item de outro país e pagará em dólar. Vamos imaginar que o item custará US$1.000.
Se a taxa cair para R$4,00 será ótimo, pois ao invés dele pagar R$5.300 ele pagará R$4.000 pelo mesmo item.
Já se a taxa subir para R$6,00, ele pagará R$6.000 pelo mesmo item.
Portanto, para o importador, uma taxa cambial baixa é boa e uma taxa alta é ruim.
Em certos momentos da economia pode ser interessante para o país, por exemplo, adquirir certos produtos no exterior para aumentar o desenvolvimento de sua economia, como por exemplo adquirir peças necessárias para um determinado setor industrial.
Nesse caso, as autoridades monetárias podem utilizar instrumentos da política cambial para fazer com que a taxa de câmbio fique baixa, ou seja, o Real fique valorizado. Dessa forma, será possível comprar mais itens com o mesmo valor.
Por outro lado, será mais difícil exportar os produtos produzidos, visto que os produtos nacionais se tornarão mais caros para os outros países comprarem o item no Brasil.
A política cambial tem como tarefa encontrar um equilíbrio saudável da taxa cambial que seja favorável ao equilíbrio da economia brasileira.
4 . Regimes de política cambial
A política cambial de um país é muito importante pois impacta diretamente sua economia.
Existem basicamente três tipos de regimes de política cambial que os governos dos países podem adotar:
Taxa de câmbio fixa
Esse tipo de regime é onde o governo possui a maior influência sobre a taxa de câmbio.
No regime de taxa de câmbio fixa o governo é quem determina a taxa de câmbio.
Como esse é um regime de taxa fixa, a taxa cambial fixada acaba se distanciando da taxa ‘natural’, aquela determinada pelo mercado.
Isso pode causar alguns problemas na economia, como por exemplo, o surgimento do mercado de câmbio paralelo, que é ilegal e segue as leis de oferta e procura.
Esse tipo de regime tende a não funcionar no longo prazo, porém ele nem sempre é ruim.
No início do Plano Real, por exemplo, esse regime foi muito útil para ancorar o preço da nova moeda.
Dessa forma, a população conseguia lembrar quanto valia o Real, visto que o preço da moeda anterior (Cruzeiro Real) tinha uma grande oscilação por causa da hiperinflação da época, o que acabava tirando a noção de quanto, de fato, essa moeda valia.
Taxa de câmbio flutuante
O regime de câmbio flutuante segue exatamente a lei da oferta e da procura, sem nenhuma interferência do governo.
Esse regime é o que mostra com mais clareza como anda a balança de pagamentos de um país, pois a taxa de câmbio é determinada pelo próprio mercado.
Por outro lado, esse regime dificulta a gestão por parte do governo, pois ele não tem uma influência direta na taxa cambial.
Taxa de câmbio flutuante administrada (flutuante suja)
A taxa de câmbio flutuante ‘suja’, funciona a maior parte do tempo como o câmbio flutuante, porém em casos de estresse, o Banco Central (BC), entra em ação influenciando o mercado.
Esse regime é utilizado hoje no Brasil.
Para evitar que a taxa de câmbio tenha uma variação muito brusca que pode atrapalhar a economia do país, o BC entra comprando dólares quando o mercado está caindo, ou vendendo, quando o mercado está subindo.
Dessa forma ele suaviza as variações de preço e melhora a previsibilidade do mercado.
5. Tipos de política cambial
Como vimos, existem cenários cambiais de taxa elevada, que são favoráveis aos importadores; e de taxa baixa que são favoráveis aos exportadores.
De acordo com o momento econômico do país, um cenário pode ser mais interessante que o outro para movimentar a economia de acordo com a necessidade de seu povo.
Por isso, há dois tipos de políticas cambiais que podem ser adotadas: a política contracionista e a expansionista.
Política Contracionista
Se o país se encontra em um momento de alta inflação, por exemplo, além de políticas contracionistas nas outras políticas (monetária e fiscal), o governo pode adotar ações para reduzir a taxa de câmbio.
Dessa forma, a procura por dinheiro estrangeiro aumenta e a demanda por dinheiro local diminui, reduzindo a inflação, porém reduzindo também a produção da indústria local.
Política Expansionista
Quando o país se encontra com sua economia estagnada, o estado pode adotar uma política expansionista para aquecer a economia.
Dessa forma, o governo tenta aumentar a taxa de câmbio, reduzindo a busca por produtos externos e a economia fica mais local. Além disso, os produtos nacionais ficam mais interessantes para os outros países, aumentando também a exportação de produtos.
Por outro lado, esse tipo de política traz a desvalorização da moeda local e aumento da inflação.
6. Instrumentos da política cambial
Como o Brasil utiliza o regime de taxa de câmbio flutuante administrada, o Banco Central (BC) possui alguns instrumentos para atuar na gestão da política cambial.
Os principais instrumentos são:
Mercado à vista (Spot)
O BC realiza a compra ou venda de dólares que fazem parte da reserva internacional do país.
Em caso de taxas subindo (valorização da moeda estrangeira), o BC entra vendendo dólares.
Em caso de taxas caindo muito (desvalorização da moeda estrangeira), o BC entra comprando dólares.
Mercado futuro (Swap)
Nesse instrumento, o BC utiliza do mercado de derivativos para gestão da política cambial.
De maneira resumida, o swap cambial representa um contrato de troca de taxas ou de rentabilidade de ativos financeiros de forma simultânea.
Aqui o BC pode, por exemplo, trocar a volatilidade da moeda por uma taxa pré acordada.
7. O impacto da política cambial na economia
Já vimos muitos exemplos de como a política cambial influencia a economia, beneficiando importadores, ou exportadores, ajudando a aquecer ou desacelerar a economia local, reduzir ou aumentar a inflação, dentre outros impactos.
Portanto, em resumo, ela influencia diversos itens na economia, como por exemplo:
- Exportações;
- Importações;
- Entrada/Investimento de capital estrangeiro;
- Rentabilidade de aplicações no exterior (nas taxas de conversões);
- Volume de reserva nacional
Além disto, a desvalorização cambial torna o produto doméstico mais barato (com relação aos produtos estrangeiros), dessa forma:
- Estimula as exportações;
- Reduz as importações;
- Reduz viagens ao exterior;
- Aumenta o número de turistas no país.
Quando há uma valorização cambial, ou seja, a moeda local vale mais, ocorre o movimento inverso.
8. As políticas macroeconômicas: cambial, monetária e fiscal
As políticas macroeconômicas têm por objetivo manter a economia de um país sob controle e em um nível favorável para sua população.
O tripé econômico é composto das políticas monetária, fiscal e cambial.
É utilizando instrumentos dessas três políticas que o governo busca manter sua economia equilibrada.
Política monetária
A política monetária visa o controle da inflação através do controle do montante de dinheiro em circulação.
Os instrumentos mais conhecidos utilizados pelo BC são: operações com títulos públicos (Tesouro Direto) e taxa de juros (Selic).
Política fiscal
A política fiscal é também conhecida como orçamental, pois essa política tem como objetivo balancear a economia nacional realizando ajustes nas contas do próprio governo.
Nessa política, o governo pode ter um superávit, quando suas receitas são maiores que seus gastos, ou um déficit, quando a receita é menor que seus gastos.
O governo utiliza de instrumentos como alterações tributárias, ajustes de gastos, entre outras formas para aumentar e/ou diminuir suas receitas e gastos.
Política cambial
A política cambial, como citamos em todo o artigo, utiliza-se da troca de moedas como seu instrumento.
9. Conclusão
Para que um país tenha uma economia equilibrada, é necessário que ele utilize de forma efetiva as três políticas macroeconômicas.
Em se tratando da Política Cambial, o regime utilizado no Brasil é a taxa flutuante administrada, onde a taxa de câmbio é determinada pelo livre mercado, de oferta e demanda, porém em casos extremos o governo entra em ação para suavizar a volatilidade.
O governo precisa atuar de forma cuidadosa, pois a utilização da política cambial além de afetar o mercado interno, também afeta a relação do Brasil com outros países, pois influencia a atratividade de turismo, de trocas comerciais, dentre outros.
Dessa forma, a política cambial afeta a vida de todos os brasileiros e precisamos entendê-la para estarmos preparados para os possíveis cenários que enfrentaremos de acordo com a movimentação da taxa de câmbio e ações do estado.
Não deixe de conferir também o artigo sobre a política monetária: https://centraldoinvestidor.com/politica-monetaria-o-que-e-e-como-isso-afeta-sua-vida/
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